quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL, SEU SIGNIFICADO E SUA MATERIALIZAÇÃO NO CONTEXTO SOCIAL ATUAL

Em Rio Verde, Goiás, no curso de Perícia Social que ministrei de 10 a 14/08/2009, um dos alunos me perguntou: Graça, qual é o teu partido político?
Pensei, e a resposta veio direta: o nosso Projeto Ético-Político. E não foi uma resposta oportunista. Foi uma resposta sustentada em uma trajetória de vida e numa escolha profissional em que sempre esteve imbricada a indignação contra a injustiça, contra a violação de direitos e contra o desrespeito a vida humana.
O Projeto Ético-Político se materializa pela defesa intransigente de direitos humanos e a luta por uma sociedade justa e igualitária. Logo, dá a orientação social da profissão porque explicita que o Serviço Social ocupa o espaço de resistência para dar visibilidade à violação de direitos através da intervenção na prática miúda dos assistentes sociais e também através de denúncia pública de situações que violem direitos.
A apropriação da orientação da profissão pela ótica dos direitos consolida nossa identidade profissional materializando o significado de se constituir assistente social na sociedade capitalista brasileira.
Logo, pela manhã do dia 24/08/2009, ao ouvir uma chamada pela Rádio Gaúcha, o jornalista pontuou que logo após o comercial iriam discutir o “erro” da Brigada Militar que levou à morte um sem terra acampado na fazenda Southall em São Gabriel, morto com um tiro disparado de uma espingarda calibre 12, pelas costas.
Como assistente social, estou me posicionando sustentada nos princípios éticos da profissão, condizentes com a sua orientação social, dada pelo Projeto Ético-Político, contra a violação permanente de direitos que está se consolidando neste estado chamado Rio Grande do Sul. Neste estado, cuja capital, Porto Alegre, um dia foi mundialmente reconhecida como a cidade que respeitava a diversidade, as diferenças e, conseqüentemente, a vida.
Este é um momento em que a extrema indignação se volta contra o que esta aí. Porque aqui neste estado está se constituindo um processo de criminalização dos movimentos sociais. É mais fácil torturar, matar, do que dialogar com as diferenças.
Este estado tem materializado a violência pelos seus dirigentes políticos através da truculência, da soberba e da mentira. E, para isto, se torna fácil manter a violência e convencer o cidadão comum através da mídia corporativa, para quem, aos “homens de bem”, tudo é possível.
Logo, materializar o Projeto Ético-Político é exercer também a profissão através da denúncia da barbárie que hoje está instituída no estado do Rio Grande do Sul e trazer a público a indignação quando um assassinato a sangue frio e pelas costas é tratado como um erro de logística!
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.
A boca do que previniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.
Então a luta foi em vão?
Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

(Bertolt Bretcht)

Um comentário:

Jorge Antonio Maurer Gomes disse...

Graça !
Penso que o militar que disparou o tiro (em circunstâncias ainda não esclarecidas)agora vai pagar o pato sozinho. Talvez tão vítima como o agricultor que morreu. Algumas perguntas devem ser feitas:
a) que preparo tinha (emocional e psicológico) para portar municão real?
b)a quem estava subordinado e que ordens recebeu?
c)quem distribuiu a municão real sabia que a mesma poderia ser usada. Em que situação a mesma seria usada? Quais as orientações que o soldado a respeito?
Bom, sem dúvida vai estourar na parte mais fraca dessa corrente, que é justamente o soldado!
Um abraço
Jorge