segunda-feira, 31 de março de 2008

UMA DESPEDIDA!

No dia 26.03.2008, ao assinar minha demissão da ULBRA/Canoas, me dei conta que sempre se paga um preço ao se assumir posições. Como Assistente Social, então, mais ainda.
O Projeto Ético-Político da profissão não é qualquer projeto.
Ter como orientação social da profissão a defesa intransigente de direitos e a luta por uma sociedade mais justa e igualitária é estar sempre apontando para este mundo invisível que ninguém quer ver. É mais fácil fazer de conta do que se movimentar nos espaços de resistência.
Esta é uma profissão que nos diz que ficar parado é morrer. Que fazer alianças de manutenção do que está aí, trazendo para o concreto o discurso do compromisso e da ação da manutenção do que está posto, é tudo o que os opressores desejam.
Paga-se um preço caro ao se recusar a ser um hospedeiro da opressão. Mas esse preço faz parte das escolhas que nos vêm acompanhando durante toda a vida.
Hoje, quero me despedir dos meus alunos, colegas de ensino e de profissão que permanecem e com os quais construí compromissos. Compromissos estes que foram forjados na luta, nas escolhas, na trajetória de vida pessoal e profissional. Nossas aulas, muitas vezes, se constituíam em encontros de conhecimento, de vidas, de trocas e de emoções.
Quero dizer a todos que, nesses sete anos como professora da ULBRA/Canoas, vocês foram muito importantes. Todos, sem exceção, fazem parte de minha história. Nesses anos, me fizeram trilhar caminhos de esperança e de lutas. Toda vez que minha voz se levantava para defender a profissão, ela estava sustentada pela esperança de vocês de contribuírem por um mundo melhor.
Estou sendo excluída do espaço acadêmico como professora-trabalhadora, como qualquer outro trabalhador pode ser excluído em uma sociedade capitalista com as características da nossa. No caso, de espaços que hoje vêm se constituindo pela transformação da educação em mercadoria, dos professores em vendedores e dos alunos em clientes.
Demitida porque os serviços até então prestados não interessam mais à instituição” - é o que estava escrito no papel que assinei.
No entanto, saio com a certeza de que o que plantei como professora floresceu e estará junto de cada aluno, de cada ex-aluno, contribuindo na consolidação de um projeto profissional calcado nas diretrizes que tanto discutimos nessa caminhada acadêmica.
A partir de agora, então, continuo na luta em outros espaços, contribuindo com a profissão que tanto amo e compartilhando conhecimentos com profissionais e companheiros de sonhos e de profissão.
Até mais, amigos!

SIM, SOU ASSISTENTE SOCIAL

*texto publicado primeiramente em 08/05/2006, em virtude da semana do dia do Assistente Social

Todos os dias quando me levanto me pergunto: por que escolhi esta profissão?

Ela permanentemente está presente no meu cotidiano. Quando vou ao Parque da Redenção, num domingo de sol, cheio de gente, me sinto feliz, mas aí... O meu outro eu - Assistente Social - chega e diz: "olha ali aquela criança descalça neste frio, cheirando loló. Olha mais adiante aquele homem dormindo ao relento". Olho, então, ao redor para ver se tem mais alguém preocupado com as cenas que o cotidiano nos esfrega na cara. Mas fico surpresa, ninguém nota!

Me dou conta de que esta realidade, além de ser banalizada, é evitada pela consciência de quem não quer ver. É um mundo que existe de forma invisível, para que o nosso "mundo real" possa existir sem culpa...

Ah! Me esqueci... Por que sou Assistente Social?

Todos os dias, o cotidiano me responde porque sou Assistente Social. Porque, nos dias de semana, voltando à noite da Universidade, olhos atentos na estrada, me deparo com cenas, ao longo do caminho, a observar o mundo invisível que ninguém vê: adolescentes cheirando, se injetando, se prostituindo, numa ciranda, novamente, de omissão e de descaso. Eles somente serão notados quando ameaçarem "os homens de bem", mas - aí é que está - não para a busca coletiva de um processo que os inclua na sociedade. Pelo contrário. Será para se discutir - isso sim - quantas cadeias mais teremos que construir, dando espaço direto à insensatez social e ao descompromisso com a infância e com a adolescência, responsabilizando-se, assim, a pobreza e o número de filhos pela violência cotidiana.

Sempre são eles, nunca somos nós. Nunca se analisa a sociedade capitalista em que vivemos e a sua forma perversa de exclusão.

Por que sou Assistente Social?

Estou sempre atenta a este mundo que passa desapercebido. Quando ouço rádio ou vejo televisão, fico discutindo com as notícias.

Como pode o âncora do jornal da noite ter uma visão tão estreita da realidade, quando trata o Movimento dos Sem Terra como um movimento de bandidos? Qualquer argumentação contrária leva a pexa do discurso antigo.

Discurso antigo é o deles! Porta-vozes de quem oprime...

Por que sou Assistente Social?

Porque olho o mundo invisível dos sem direitos. Dos famintos, dos doentes, dos sem educação, dos desesperançados, dos espoliados, dos excluídos. Porque sei que os donos do capital têm seus instrumentos – leia-se, aí, a Grande Mídia – para manterem a desinformação, a opressão e os privilégios.

E os oprimidos?! O que têm?!

Por que sou Assistente Social?!

Porque sou indignada com a injustiça, porque direitos, para mim, só têm significado com garantia. Porque esta escolha profissional veio me possibilitar, ao longo de minha vida, estar na luta permanente, na defesa intransigente dos direitos humanos e na busca de uma sociedade mais justa.

Feliz dia dos Assistentes Sociais, este que sempre será todos os dias em que se levanta a voz na defesa daqueles que têm os seus direitos cotidianamente negados.

Dia 15 de maio, dia do Assistente Social.


Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Nova cara!

Novos tempos, nova cara.
O blog da Graturck mudou de figura.
Nos próximos dias, muita coisa ainda para construir.
Seja bem-vindo!