quarta-feira, 30 de julho de 2008

SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO: UM NOVO ESPAÇO OCUPACIONAL

Embora o Serviço Social se organize como uma profissão liberal, os assistentes sociais ainda não se apropriaram das possibilidades de constituírem espaços de trabalho que impliquem em serem partes desses espaços como profissionais capazes de trazerem para a área de serviços uma outra forma de se instituírem como trabalhadores autônomos.

O francês Thierry Gaudin, fundador e presidente do Foresight 2100, afirma que “a era do emprego se encerra. Começa a era da prestação de serviços e dos trabalhadores” (2008). Esta afirmativa traz embutida uma nova estrutura no mundo do trabalho e vai implicar em um novo perfil de profissional – os profissionais pluriativos, aqueles que desenvolveram potencialidades cujos conhecimentos abrangem as necessidades de um mundo real que está se transformando, saindo de um mundo de “produtividade sem limites e consumismo insustentável, para a era de prestação de serviços e terceirizações”.

O que isto tem a ver com os assistentes sociais? Quais as ferramentas que os assistentes sociais podem se utilizar para entrar com competência neste novo mundo do trabalho?

A partir destas questões podemos fazer a seguinte reflexão: a transformação da educação em mercadoria modifica os espaços de formação acadêmica em grandes complexos de vendas de mercadorias e, conseqüentemente, o que vai se instituindo, pela força do mercado, é a quantidade versus qualidade. Logo, a cada semestre têm-se mais profissionais disputando uma vaga nos concursos públicos disponíveis. Cada vez mais, para uma vaga, têm-se 40 a 50 candidatos, produzindo, então, na consciência coletiva dos profissionais assistentes sociais, recém-formados, a necessidade de conseguir um emprego a qualquer custo, perdendo-se, então, a dimensão do trabalho, independente do emprego.

Logo, ao se perder a dimensão do trabalho nesta perspectiva, não se consegue vislumbrar possibilidades de trabalhos que garantam a sobrevivência cotidiana e, ao mesmo tempo, que permitam a ocupação de diversos espaços a partir de nossa profissão – o Serviço Social.

É importante se apoderar do conhecimento de que o Serviço Social, a partir de seu objeto, Questão Social, dá condições ao assistente social se constituir no mundo do trabalho como um profissional pluriativo, porque garante a este profissional a apropriação das categorias historicidade, contradição e totalidade na vida cotidiana dos sujeitos usuários do Serviço Social. Estas categorias vão dar sustentação ao aprofundamento das refrações da Questão Social a partir do “núcleo duro” da profissão, que envolve os fundamentos do Serviço Social, o Método, a Questão Social, o Projeto Ético-Político e a Metodologia de Aplicação do Método Dialético Materialista. Logo, é necessária a apropriação deste “núcleo duro” que vai garantir a identidade profissional e, conseqüentemente, a intervenção nas diferentes refrações da Questão Social, a partir das especificidades do Serviço Social.
Os espaços profissionais para os assistentes sociais, a partir da Questão Social como seu objeto, vão garantir trabalho, independente das possibilidades de emprego. No entanto, sem apropriação do conhecimento, passa a ser descortinado neste horizonte a precarização do trabalho e a exploração deste profissional como trabalhador.

Para tanto, é necessário estarmos preparados para o que vem se instituindo e se consolidando no século XXI, como afirma Gaudin: “a transformação atual do sistema técnico nos faz passar da civilização industrial para a civilização cognitiva”, portanto, uma profissão que proporciona a apropriação da totalidade no cotidiano das pessoas, potencializa seus profissionais para se tornarem pluriativos e capazes de realizarem o enfrentamento a essa nova dimensão do trabalho, sem perderem e negociarem sua humanidade e seu prazer em exercer o que gostam e que escolheram como profissão.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O ENCONTRO!


Ao participarmos do evento sobre a comemoração dos 18 anos do ECA em Arroio dos Ratos/RS, um público atento e interessado se dispôs a compartilhar o conteúdo da fala que trazia três categorias para a discussão: ato infracional, adolescência e violência familiar.

Mas por que essas categorias se articularam na fala de comemoração dos 18 anos do ECA?

Para responder a essa questão, é necessário priorizar a doutrina de proteção integral, e é nessa doutrina que vamos encontrar a apropriação de responsabilidades coletivas no ato infracional cometido por um adolescente, ou, então, as responsabilidades coletivas no risco pessoal e social que crianças e adolescentes estão sujeitos em uma sociedade capitalista excludente e perversa, que abandona à própria sorte sua herança infanto-juvenil pertencente a classes sociais que se constituem pela desigualdade social. Em um momento em que a sociedade elitizada deste país se envolve obsessivamente com segurança, em busca de grades e cadeias que os possam proteger, esta sociedade elitizada vai, ao mesmo tempo, esquecendo de sua responsabilidade na geração desta violência.

A contradição, então, vai se explicitar em um país que se caracteriza por ter uma justiça que prioriza as classes sociais, onde quem tem mais pode pagar bons advogados e por isto são beneficiados. Logo, ter uma lei como a 8.069/90, se constituindo neste país há 18 anos, incomoda quem não aceita a sua participação social na construção da violência que qualquer cidadão brasileiro está exposto. O seu conteúdo grita por esta responsabilidade coletiva na construção da violência, por isso enfrenta inimigos perigosos que não se cansam, pela argumentação, de pedir pela sua mudança. Esta é a face perversa da burguesia brasileira que a qualquer custo quer criminalizar a pobreza e brada através do argumento da defesa do “estado democrático de direito” para convencer os incautos, que soltar o mega-empresário do banco Opportunity, Daniel Dantas, se está garantindo os direitos dos brasileiros postos na Constituição Brasileira.

Logo, neste encontro, duas questões postas pelo público dão visibilidade a esta contradição que estamos tangenciando. Uma, o sigilo no trato da violência contra crianças e adolescentes. E outra, ao ser solicitado que emitíssemos opinião a respeito do que havia sido colocado na palestra proferida por um operador da justiça pela manhã: o ECA fala em direitos, e nos deveres ninguém fala?

E esta questão nos levou à seguinte reflexão colocada publicamente: quando estamos falando de adolescentes, sabemos que os deveres são conquistados pela confiança com que eles são tratados. E quando os direitos devem ser garantidos por lei, é porque são permanentemente violados por uma sociedade dividida em classes e que está sempre pronta a priorizar os direitos da burguesia.

No mínimo é curioso, ao se falar em direito, trazer a questão do dever, como se a garantia do direito fosse uma benesse. O que é o dever visto socialmente, para um adolescente que vai se constituir no mundo dos adultos? O adolescimento implica em refutar regras socialmente instituídas, consiste em consolidar sua identidade pessoal e social, em buscar um mundo melhor e viver. Adolescentes que roubam, que matam, que bebem, que se drogam, são produtos desta sociedade. De pais ausentes, de exploração do trabalho, da falta de oportunidades, de escolas excludentes, de políticas públicas ineficientes. É necessário falarmos em dever dos adolescentes? E onde fica o dever do mundo adulto em relação a suas crianças e adolescentes?

A outra questão, ao se referir ao sigilo no trato a situações que envolvem crianças e adolescentes, levou à seguinte problematização: como fazer, principalmente nas pequenas cidades, onde todos se conhecem?

Imediatamente esta questão remeteu à reflexão sobre o acolhimento dos trabalhadores/profissionais, porque se constata no cotidiano que estamos perdendo a capacidade de nos cuidarmos como profissionais. Nos lugares de trabalho não se constituem espaços para garantir a acolhida. A realidade é dura e, nestes lugares, muitos gestores não se preocupam em garantir condições de cuidados aos trabalhadores/ profissionais. Entende-se o porquê. Em uma sociedade como esta, o trabalhador tem que ser sugado pela mais-valia e coisificado pelas relações de trabalho. Logo, ocupar espaços de resistência é constituir grupos em que se propicie este cuidado que conseqüentemente refletirá na condução de um sigilo relativo. Porque ao se sentir cuidado, este trabalhador que carrega o peso de uma realidade dura, não precisará dividi-lo com suas relações afetivas e amigáveis, mas o dividirá com seus companheiros de trabalho e na discussão profissional construirá estratégias de enfrentamento a esta realidade que viola direitos.

Portanto, trazer o dever dos adolescentes e o sigilo como discussão no contexto dos 18 anos de aniversário do ECA é explicitar com propriedade o que está por trás de sua discussão: imputar aos adolescentes deveres que antes devem ser cobrados da sociedade, e a mais-valia que se desvenda pela forma com que os trabalhadores circulam as informações a respeito da violação de direitos de crianças e adolescentes em seu cotidiano profissional.

Com certeza, o ECA incomoda. E incomoda porque ele é produto da resistência, porque ele se instituiu pelo movimento social da sociedade civil organizada que o transformou em lei, o grito pelo direito. Longa vida à Lei 8.069/90! E que hoje, ainda, necessita de sustentação para consolidar suas conquistas e fazer acontecer as outras que ainda não estão consolidadas.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E O COTIDIANO!

O cotidiano se constitui em um espaço onde a vida acontece e, para nós assistentes sociais, é neste que vai se explicitar a Questão Social na vida dos sujeitos – pela forma como a desigualdade social se explicita ou, então, pelos espaços de resistência que se instituem.

Logo, esta é uma contradição que confronta.

São nesses momentos que me pergunto: em que mundo nós vivemos? Em que mundo nós concretizamos os nossos processos de trabalho? Como se constitui um olhar ampliado ao se negar a contradição e conseqüentemente o Projeto Ético-Político?

Têm-se, então, duas vias: uma, que se apropria dessa realidade social, forjada pela relação capital e trabalho, que, ao olhar para os lados, consegue se apropriar da desigualdade social, da exploração, do resultado dessa desigualdade, posta na mão, por exemplo, do brigadiano das fotos que se seguem, que assume o lado do capital ao tentar deter pela força do cassetete a ocupação do espaço de resistência. Os fundamentos do Serviço Social possibilitam, então, ao assistente social, através de seu processo de trabalho, desvendar o que está posto nestas fotos. O poder do capital encarando o legítimo direito de se reivindicar direitos através da imposição do cassetete. Calando-se, assim, o direito pela violência. Logo, é a partir de fundamentos que os assistentes sociais elegeram para dar conta de sua intervenção na realidade social que se constitui o Projeto Ético-Político, que dá a orientação social para a profissão e que permite a apropriação do Método Dialético Materialista para se dar conta de uma leitura de sociedade, neste caso, mais especificamente da realidade latino-americana, da realidade do Brasil, da realidade do Rio Grande do Sul.



A outra vertente, que começa a se instituir nos meios acadêmicos e aos poucos vai se explicitando pelas falas de alguns assistentes sociais, vem da negação da contradição posta na sociedade. Temos que ouvir seguidamente que trabalhador pode ser visto como colaborador, que a Teoria Marxista apresenta um viés míope, que não amplia o seu olhar e que, então, a chamada teoria da complexidade contemplaria esta ampliação. É duro presenciar este nível de debate dentro de uma categoria que vai trabalhar com todas as expressões da Questão Social, que escancara uma DESIGUALDADE, que explicita com intensidade a exploração.

Esta leitura de realidade pode, então, produzir a seguinte compreensão das fotos: é necessário manter a ordem. Estes baderneiros precisam aprender que não é assim que se luta. E assim, portanto, que se vai justificar, até teoricamente, a truculência com que vêm sendo tratados os movimentos sociais no RS. Logo, a partir dessa perspectiva, os assistentes sociais vão se apropriar de teorias que não tencionam a contradição, que preferem retomar o trato com o fenômeno social a partir do sujeito e de seu contexto afetivo e social mais restrito. Esta postura teórica que vem se instituindo vagarosamente em espaços acadêmicos e profissionais vai de encontro ao Projeto Ético-Político da profissão, transformando a intervenção do assistente social em uma mera prática burocrática e de resolução de problemas, perdendo-se drasticamente a dimensão do direito.

É necessário garantir o Projeto Ético-Político, porque é ele nos dá a dimensão exata de nosso estar no mundo como profissão!

I ENCONTRO EM COMEMORAÇÃO AOS 18 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – CMDCA
ARROIO DOS RATOS/RS

O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CMDCA convida para participar do I Encontro em Comemoração aos 18 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente a realizar-se no dia 15 de julho de 2008 a partir das 08h e 30min no Sindimar, sito à Rua José Lopes Tassoni, nº 47, em Arroio dos Ratos.

Temas em discussão:
• VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE
• ATO INFRACIONAL

PROGRAMAÇÃO
08:30 – Credenciamento
09:00 – Abertura
09:30 – O Adolescente em conflito com a Lei – Medidas Sócio-Educativas -> Promotor de Justiça Dr. Leonardo Guarise Barrios – Promotoria da Infância e Juventude – Ministério Público de São Jerônimo
10:30 – Relato de experiência do Serviço Social Judiciário -> Sra. Realda Dutra dos Santos - Assistente Social Judiciária – Pós Graduada em Serviço Social de Família
11:00 - Debate
11:30 – Almoço
13:30 - A violência na família e sua explicitação através de adolescentes autores de ato infracional -> Prof. Dra. Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck – Doutora em Serviço Social pela PUCRS - fundadora e diretora da empresa GRATURCK consultoria, perícia social e cursos, nas áreas da criança e do adolescente, família, seguridade social e habitação.
14:30 – Debate
15:30 – Encerramento e entrega de certificados
16:00 - Confraternização