segunda-feira, 31 de agosto de 2009

SERVIÇO SOCIAL É O MESMO QUE TERAPIA FAMILIAR?

Ao voltar a Porto Alegre após dez dias (07 a 17/08/2009) em Rio Verde, Goiás, em que foi ministrado o curso de Perícia Social a alunos em fim de curso e profissionais assistentes sociais, mais uma vez retornamos com a certeza da necessidade de ampliar e aprofundar o debate sobre os Fundamentos do Serviço Social e sua aplicabilidade na prática.
Durante o curso, uma afirmativa dentre tantas ficou: “Eu pensei que Terapia Familiar fosse a mesma coisa que Serviço Social”!
Esta afirmativa nos proporcionou, então, a reflexão sobre esta questão que dá visibilidade ao que considero uma das grandes “confusões” que atormentam o cotidiano profissional. Por que confundir o atendimento individualizado e coletivo continuado com Terapia Familiar?
Esta confusão, a nosso ver, está centrada na falta de apropriação dos Fundamentos e conseqüentemente na ausência da apropriação da orientação social da profissão dada pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Pois, se não, vejamos, a orientação social da profissão está centrada nas categorias teóricas do Método: historicidade, totalidade e contradição, que possibilitam, a partir da análise da realidade, desvendar os meandros, no nosso caso, de uma sociedade capitalista ocidental e, então, denunciar a violação de direitos humanos como uma de suas facetas. Logo, para o assistente social, o sujeito social que chega traz consigo, para seu contexto de relações, a própria sociedade capitalista expressa pelas refrações da Questão Social explicitadas pela desigualdade social, ou então pela resistência – ao materializar a contradição em sua vida e possibilitar, assim, a superação da Questão Social, que o mantém imobilizado na busca do gerenciamento de sua própria vida e conseqüentemente sem condições de autonomia.
Os Fundamentos do Serviço Social oportunizam a apropriação dos vários parâmetros de responsabilidade imbricados na expressão das necessidades de um sujeito singular. Esta nega o reducionismo teórico na leitura do fenômeno social que se explicita na vida do usuário atendido pelo Serviço Social. Portanto, se contrapõe à Terapia Familiar porque os processos de trabalho dos assistentes sociais vão se constituir para superar o objeto desvendado na ótica do direito e não da cura de problemas emocionais pela ótica da patologia.
Logo, reafirmamos que Serviço Social não é o mesmo que Terapia Familiar, o que não impede que um assistente social com formação em Terapia Familiar não possa exercer esta especialização, como também um pedagogo, um psicólogo, um advogado ou um psiquiatra com a mesma formação.
O que está no cerne da discussão é um assistente social exercer a sua profissão simplesmente como terapeuta familiar ou, então, na academia ensinar a profissão unicamente sob a ótica da Terapia Familiar, desrespeitando, dessa forma, os Fundamentos do Serviço Social.
Logo, o que se torna proibitivo é exercer em qualquer espaço de trabalho a profissão de assistente social como terapeuta familiar.
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL, SEU SIGNIFICADO E SUA MATERIALIZAÇÃO NO CONTEXTO SOCIAL ATUAL

Em Rio Verde, Goiás, no curso de Perícia Social que ministrei de 10 a 14/08/2009, um dos alunos me perguntou: Graça, qual é o teu partido político?
Pensei, e a resposta veio direta: o nosso Projeto Ético-Político. E não foi uma resposta oportunista. Foi uma resposta sustentada em uma trajetória de vida e numa escolha profissional em que sempre esteve imbricada a indignação contra a injustiça, contra a violação de direitos e contra o desrespeito a vida humana.
O Projeto Ético-Político se materializa pela defesa intransigente de direitos humanos e a luta por uma sociedade justa e igualitária. Logo, dá a orientação social da profissão porque explicita que o Serviço Social ocupa o espaço de resistência para dar visibilidade à violação de direitos através da intervenção na prática miúda dos assistentes sociais e também através de denúncia pública de situações que violem direitos.
A apropriação da orientação da profissão pela ótica dos direitos consolida nossa identidade profissional materializando o significado de se constituir assistente social na sociedade capitalista brasileira.
Logo, pela manhã do dia 24/08/2009, ao ouvir uma chamada pela Rádio Gaúcha, o jornalista pontuou que logo após o comercial iriam discutir o “erro” da Brigada Militar que levou à morte um sem terra acampado na fazenda Southall em São Gabriel, morto com um tiro disparado de uma espingarda calibre 12, pelas costas.
Como assistente social, estou me posicionando sustentada nos princípios éticos da profissão, condizentes com a sua orientação social, dada pelo Projeto Ético-Político, contra a violação permanente de direitos que está se consolidando neste estado chamado Rio Grande do Sul. Neste estado, cuja capital, Porto Alegre, um dia foi mundialmente reconhecida como a cidade que respeitava a diversidade, as diferenças e, conseqüentemente, a vida.
Este é um momento em que a extrema indignação se volta contra o que esta aí. Porque aqui neste estado está se constituindo um processo de criminalização dos movimentos sociais. É mais fácil torturar, matar, do que dialogar com as diferenças.
Este estado tem materializado a violência pelos seus dirigentes políticos através da truculência, da soberba e da mentira. E, para isto, se torna fácil manter a violência e convencer o cidadão comum através da mídia corporativa, para quem, aos “homens de bem”, tudo é possível.
Logo, materializar o Projeto Ético-Político é exercer também a profissão através da denúncia da barbárie que hoje está instituída no estado do Rio Grande do Sul e trazer a público a indignação quando um assassinato a sangue frio e pelas costas é tratado como um erro de logística!
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Aquele que não cedeu
Foi abatido
O que foi abatido
Não cedeu.
A boca do que previniu
Está cheia de terra.
A aventura sangrenta
Começa.
O túmulo do amigo da paz
É pisoteado por batalhões.
Então a luta foi em vão?
Quando é abatido o que não lutou só
O inimigo
Ainda não venceu.

(Bertolt Bretcht)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Práticas Terapêuticas: uma discussão que vale a pena

Recebemos o seguinte comentário anônimo em artigo do dia 09/07, entitulado SERVIÇO SOCIAL E PRÁTICAS TERAPÊUTICAS: UMA INOVAÇÃO?:

Quem está falando de sujeitos isolados???? Quem está negando a totalidade???? Fico triste ao perceber que muitos colegas desconhecem o quanto de terapêutico existe na prática do serviço social. É uma pena que essa visão miope seja tão presente no discurso hegemônico. Sejamos coerentes, por favor!

Nossa resposta:
Prezado Anônimo.
Em primeiro lugar o discurso hegemônico da nossa profissão não nega a mudança, esta vista num sentido de superação do que mantém os sujeitos em permanente sofrimento. Não nega que quem chega para os assistentes sociais é um sujeito em sofrimento.
Sendo assim, o que se defende é a necessidade da consolidação de identidade profissional a partir da leitura de um fenômeno que se expressa na prática miúda dos assistentes sociais através dos Fundamentos Teóricos-Metodológicos que hoje dão sustentação a nossa prática.
Em relação à totalidade, é necessário trazer a concepção que dá o tom a tua argumentação para iniciarmos um bom debate. Outrossim, considero extremamente viável a discussão teórica sem ranços e sem disputas, pois, antes de tudo, o que interessa é a consolidação de nossa profissão a partir da materialização dos Fundamentos do Serviço Social pela ótica dos direitos, pois quem ganha são os nossos usuários.
Em tempo, há um longo período, quando nos espaços institucionais se degladiavam assistentes sociais e psicólogos para se apropriarem qual prática era terapêutica, minha supervisora da época me disse que todo o processo de mudança era terapêutico. Por um bom tempo isso me serviu como argumento nos embates para a conquista de espaços. Hoje, não preciso mais de embates porque, ao me apropriar dos Fundamentos, amplia-se a "visão míope", que me mantinha prisioneira em disputas mesquinhas dentro e fora da profissão, porque aprendi que trabalhar na superação é poder construir processos de intervenção a partir da leitura das subjetividades dos sujeitos expressas pela materialização de suas identidades sociais nos espaços em que vivem.

Um fraterno abraço,
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

REFLEXÕES SOBRE O CURSO DE PERÍCIA SOCIAL

Ao término de mais um curso de Perícia Social, como, por exemplo, o realizado em Tapera/RS, em julho, nos damos conta de que estes encontros que já vêm acontecendo desde 2004, vêm se constituindo em espaços de aprendizagem, de troca e de afeto. A construção desses espaços transcende ao curso. As aulas se tornam momentos de trocas de vidas pessoais e profissionais, cujo amálgama, que dá o tom da liga, é a esperança e a necessidade de se consolidar o orgulho em ser assistente social. Nesses espaços, é permitido errar e dizer: não sei, porque, sem esta possibilidade, não existe condições de aprendizagem.

Para mim, como assistente social, com um longo caminho de vida pessoal e profissional já trilhado, poder compartilhar conhecimento, experiências, desesperanças, esperanças e principalmente o amor e o orgulho em ser assistente social é poder me dar conta de estar em uma profissão que nos dá um sentido aguçado de humanidade, que mantém nossa indignação acesa e que possibilita a interação com os sujeitos, com o cotidiano e com o mundo. É estar vivendo intensamente através de cada encontro que mergulhamos coletivamente, na apropriação da Questão Social. Logo, consolidando a identidade profissional porque nos apropriamos do espaço de resistência e materializamos em cada atendimento, o Projeto Ético-Político do Serviço Social: a defesa intransigente dos direitos humanos e a busca por uma sociedade justa e igualitária.

Como é bom ser Assistente Social!!!
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Turck

sábado, 15 de agosto de 2009

Questão Social: a Reforma Agrária

São Gabriel, RS, agosto de 2009.
Depois de serem despejados violentamente da prefeitura municipal pela Brigada Militar, integrantes do MST ocupam área anexa a assentamento para pressionar governos federal, estadual e municipal a atenderem suas demandas.
Este é um outro lado da história que você não enxergará na grande mídia.