quarta-feira, 28 de junho de 2006

O FIM É SEMPRE UM RECOMEÇO!

O processo de conhecimento é estar sempre atento. É acordar pela manhã, olhar o sol e enxergar a paisagem. É se dar conta de que esta sempre será diferente a cada manhã que eu acordar.

Nada é igual. O igual é o aparente, que não explicita o movimento das superações sucessivas que acontecem todos os dias, a todos os momentos.

Trabalho de Conclusão de Curso para os futuros Assistentes Sociais é um momento único na vida de quem aceita o desafio de ir em busca da síntese de anos de aprendizagem, às vezes articulada, às vezes fragmentada. É um movimento de superações, não só do conhecimento, mas de superações de nossa própria vida, porque ele implica em tomada de decisões. Decisões de ir fundo e sair renovada, diferente, satisfeita, porque estou nele. Porque, ao buscar a articulação do conhecimento a partir das Diretrizes Curriculares do Serviço Social, vou aos poucos compreendendo a profissão que escolhi. E sinto um friozinho percorrendo minha espinha.

Esta profissão não flexibiliza a realidade. Não dialoga com a mesmice. Não contemporiza com a dubiedade. Não aceita a argumentação teórica que ignora a desigualdade. Pelo contrário, ao nos apropriarmos dos Fundamentos Teórico-Metodológicos, Ético-Políticos e Técnico-Operativos, vamos nos dando conta que o Serviço Social tem um lado.

O que é o fim, para alguns, é sempre um recomeço para os Assistentes Sociais que caminham na luta pelos direitos.

Logo, orientar Trabalho de Conclusão de Curso é estar construindo junto aos alunos um conhecimento vivo, porque ele se articula com o vivido e traz presente esta profissão difícil de encarar, porque ela exige posição, concepção de mundo e um vir a ser que constantemente renova o anteriormente aprendido.

Portanto, o fim traz na sua essência o recomeço, um recomeço que não aceita conformismo, acomodação e conhecimento aos pedaços, porque “tem que partir ao mesmo tempo do pré-existente e do esperado, recorrer não só ao contexto imediato, mas também ao passado e à expectativa do futuro” (ARRUDA).
Maria da Graça Maurer Gomes Türck
Foto: Fabiana Mendonça (Catarse - Coletivo de Comunicação)

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Artigos Diversos

Confira, também, em Artigos Diversos, o texto feito em colaboração com a Professora Regina Martins sobre a Questão Social e os moradores de rua - tema do 11º Fórum da Questão Social, de novembro de 2004.

Acesse pelo menu ao lado.

REDE INTERNA E FUTEBOL

Futebol e Rede Interna: só talento não basta, é preciso competência relacional para driblar a inveja, a competição excludente e o poder discricionário.

Olhar os jogos que se desenrolam na Alemanha, na busca da Copa do Mundo, é aprender o significado in lócus, da Rede Interna.

Nota-se, por exemplo, a seleção brasileira, composta de muitos talentos individuais, sem, aparentenmente, um sentido de coletivo. São homens/meninos, milionários, mimados por uma imprensa que insufla o ego, vendendo, não só a eles, mas aos brasileiros, o já ganhou. Ignorando e desrespeitando os adversários. Ninguém ganha sem esforço, sem coletivo, sem respeito.Esquecem que futebol também é trabalho de equipe, e trabalho de equipe é um coletivo de talentos e experiências vividas, articuladas com um objetivo comum, na construção de caminhos metodológicos para se chegar ao produto, ao gol, à vitória!

Os homens/meninos mimados, jogadores, esquecem que futebol também é trabalho. Que eles vendem uma mercadoria. O seu talento com a bola. Esquecem que, na sociedade capitalista ocidental, eles são aceitos e reverenciados somente enquanto produzem para a vitória. Mas, se deixarem de produzir, são postos de lado, como uma mercadoria sem valor.

Estar na Rede Interna é, portanto, antes de tudo, construir espaços de relação, onde existe lugar para as divergências, para as diferenças, para a humildade, para a comunicação, para a aprendizagem e, principalmente, para aprender que sem um coletivo, não se chega ao fim do caminho!

Competição excludente, inveja e poder discricionário levam, em qualquer espaço de trabalhe que se ocupe, à impossibilidade de se construir vitórias e garantir direitos.

Logo, quando nos deparamos com a seleção brasileira treinando e jogando, surge um ‘nó’ que aperta a garganta, porque, ali, está explicitado o descompromisso com o coletivo, com o objetivo comum. Seus componentes parecem estar voltados para seus próprios interesses, desperdiçando a sinergia do movimento coletivo, para resolver, num ‘passe de mágica’ individual, o trabalho que é de todos.

Rede Interna não rima com o individualismo exacerbado e nem com um coletivo sufocante.

Rede Interna respeita o individual e compõe o coletivo em que, tanto um como o outro, se complementam, mas mantêm suas identidades.

Maria da Graça Türck

segunda-feira, 12 de junho de 2006

A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA É UMA TENTATIVA DE LEGALIZAR A VIOLAÇÃO DE DIREITOS?

Criminalizar a pobreza é explicitar a luta de classes, é a tentativa permanente de legalizar a violação de direitos, que hoje se encontra mais recrudecida.

Nos espaços sociais mais imprevisíveis, se escuta a fala de representantes que deveriam garantir direitos, na defesa da culpabilização da pobreza, ao se referirem à violência cotidiana. Logo, os sujeitos que trazem em suas vidas todas as expressões da Questão Social são tratados como "pobres". Não como sujeitos. Mas simplesmente como pobres.

Pobres – “irresponsáveis, que se tornam fábricas de filhos”. Pobres – “negrinhos ranhentos”.

Pobres – “filhos drogados, com mães irresponsáveis”. Pobres – “menores infratores”.

Fala-se irresponsavelmente. Fala-se assim em espaços públicos, oferecendo-se receitas na contenção da violência, as quais circulam também na grande mídia.

E onde se faz o contraponto?!

Em que espaço se pode discutir a concentração de renda?! A falta de uma formação profissional que priorize o conhecimento em detrimento de ideologias?!

Onde priorizar uma ação que implemente o Estatuto da Criança e do Adolescente, sem os ransos do antigo Código de Menores?!

Onde se pode ter a informação sobre um adolescente autor de ato infracional, sem que se fale de um menor infrator?!

Onde se pode discutir planejamento familiar sem que se direcione exclusivamente para os pobres “fabricantes de filhos” e, conseqüentemente, culpados pela violência?

Onde se apropriar dos meandros da sociedade capitalista da América Latina, que consegue, competentemente, manter a desigualdade social e convencer os que vivem esta desigualdade a defender as estruturas e os instrumentos sociais de sua própria opressão?!

Onde buscar o entendimento de que o aparente mascara a realidade e mantém a alienação?!

Com certeza, para nós, Assistentes Sociais, a resposta está imbricada na apropriação de nosso Projeto Ético-Político, na garantia permanente dos direitos humanos e na busca permanente de uma sociedade mais justa e igualitária e, conseqüentemente, ocupando os espaços de resistência na interlocução destes direitos.

Maria da Graça Maurer Gomes Türck

segunda-feira, 5 de junho de 2006

O APARENTE NA MANIFESTAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL

Estar atento ao que se vislumbra no horizonte do social é estar articulada com as expressões que emergem da Questão Social.

Nem tudo que parece ser é... E é neste movimento de desvelar o aparente que o Processo de Trabalho do Assistente Social vai se instituindo para a superação da explicação dos fenômenos que se explicitam pela desigualdade social.

Logo, se apropriar do aparente para compreender o fenômeno, por exemplo, do abuso sexual intrafamiliar é ir além do julgamento puro e simples, da busca de um culpado e de uma vítima. É ir à essência do fenômeno para desvelar todos os patamares de responsabilidade na violação de direitos de uma determinada criança, em uma determinada família, em uma determinada classe social, em uma determinada sociedade.

“Desse modo, o movimento de nossa reflexão pode e deve reproduzir o movimento através do qual a essência se traduz, se trai, se reencontra em si mesma: mais rica, mais profunda que o fenômeno e, todavia, expressa por ele. A 'expressão', não devemos esquecê-la, ao mesmo tempo implica e dissimula, oculta e revela, traduz e trai o que ela expressa!" (LEFEBVRE, 1991, p.217).

Portanto, se apropriar deste movimento é se apropriar do Método Dialético Materialista para analisar uma realidade cotidiana permeada pela violência, traduzida nas relações sociais, produto da sociedade capitalista. E não distanciar-se do fenômeno abuso sexual intrafamiliar através da eterna pergunta: o que tem a ver capital e trabalho com abuso sexual?

Muito, à medida que nestas relações estão postas a reificação, a fetichização, a mais-valia, a alienação e a luta de classes. Logo, as relações de violência, então, são vividas pela desvalorização do humano e pela busca permanente do poder e do ganho numa sociedade excludente que produz a violência.

Maria da Graça Türck