terça-feira, 21 de novembro de 2006

SERVIÇO SOCIAL: PALAVRAS QUE COMPROMETEM...

É no cotidiano profissional que se explicita a tensão entre os paradigmas – o marxista e o positivista – que permeiam o processo de intervenção dos Assistentes Sociais. Na fala dos profissionais – a garantia de direitos, a superação, o movimento, o usuário a situação, a Questão Social, o processo de trabalho, entre outros. Na sua ação, família desestruturada, o adolescente carente, a família pobre, o público-alvo, o caso, a resolução de problemas, o encaminhamento, a tarefa, o cliente, entre outros.

É um momento difícil para a profissão. Urge uma retomada dos fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, não só na apropriação do conhecimento teórico, mas, principalmente em sua articulação na prática.

Não é mais possível ficar calada ante o retrocesso que se verifica na profissão. Este fazer pelo fazer, este descompromisso com esta articulação, o descomprometimento com o conhecimento e a insegurança dos profissionais no exercício da profissão.

Todos nós somos responsáveis: a academia, os profissionais das “franjas”, os teóricos do Serviço Social, os alunos. Esta profissão é muito mais que “receitar” fórmulas.

Esta profissão assumiu o compromisso de ser a interlocutora de direitos em relação a sua população usuária, que traz em suas vidas todas as expressões da Questão Social, porque se apropriou conscientemente de uma teoria que lhe dá sustentação teórica argumentativa para ocupar os espaços de resistência para tal.

Logo, a garantia de direitos não rima com resolução de problemas, porque garantir direitos implica em se apropriar de um conhecimento teórico que traduz a articulação da classe dominante na manutenção da desigualdade social. Esta vai tecendo o conhecimento do social a partir da consciência crítica, da tomada de posição, da concepção de sociedade e mundo. Vai desmascarando o aparente e qualificando os sujeitos na gestão de suas vidas cotidianas.

Portanto, utilizar teorias reducionistas para se apropriar da realidade é culpabilizar o sujeito pelo seu sofrimento cotidiano. E, aí, tudo vai se explicar pela família desestruturada, pobre e carente, cujo trabalho a ser desenvolvido pelo Assistente Social, se resume em entrevistar e encaminhar, em que a tarefa e a mesmice farão parte integrante de sua ação profissional.

E, conseqüentemente, utilizar palavras carregadas de significados teóricos reducionistas, que vão permeando o cotidiano profissional, é ir consolidando espaços de violação de direitos. Logo, como bem disse Martinelli, “a principal mediação é a consciência”, e esta conquista só será realizada pela articulação dos fundamentos do Serviço Social e pela sua materialização pela ação profissional do Assistente Social.
Maria da Graça Türck

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pela sua fala, sinto-me gartificada quando vejo profissionais engajados no comprometimento com o projeto ético-político da categoria e sem "papas na língua". Que com certeza precisamos "acordar os que ainda dormem" na nossa profissão, e que sem compromisso nenhum, e pior sem a preocupação de tê-lo, continuam a "ficar de pé" ocupando vagas e representando toda a categoria.
Mais uma vez Parabens!!! Quem dera um dia eu consiga chegar a ter sua fluencia para descrever os meus pensamentos tão bem quanto você. Sou sua fã!
AS Marcia Abrão
CRESS/MS