segunda-feira, 6 de novembro de 2006

SERVIÇO SOCIAL, OBJETO E IDENTIDADE

Que complicado ser assistente social e a toda hora nos espaços institucionais e sócio-ocupacionais estarmos constantemente explicando que profissão é esta...

Nesta minha caminhada profissional, os assistentes sociais com quem venho mantendo contato, independente do estado em que residem, dos espaços profissionais por onde transitam, muitos trazem consigo a desesperança pela profissão. Não se reconhecem como assistentes sociais e, cansados de tanto explicar, ou, então, de buscar esta “identidade oculta” que consolida a nossa diferença no social, se conformam com o exercício da tarefa institucional ou desistem de serem assistentes sociais.

Ao participar de palestras ou seminários que tratam de responder a uma simples questão: "Eu sou assistente social e agora?", me confronto com respostas dadas a partir da identificação da profissão com as demandas institucionais e com os locais onde exercem a profissão.

Ah! O Mercado.

É preciso se preparar para o Mercado.

Existe uma “avalanche” de Cursos de Serviço Social no Brasil, formando cada vez mais assistentes sociais.

E a pergunta se faz presente.

Como, então, vamos entrar no Mercado, já que também somos trabalhadores e necessitamos sobreviver mediante um emprego e um salário?

Como se faz a diferença?

Mercado e Projeto Ético-Político, eis a grande contradição. É uma escolha difícil. Porque optar pelo Mercado é estar a favor, se qualificar para atender as demandas do Mercado.

Logo, pelo Projeto Ético-Político, é garantir direitos, é ter uma leitura das relações sociais postas em uma sociedade capitalista como a nossa. É compreender que esta luta se faz através da articulação da teoria com a prática.

Competência rima com conhecimento. E conhecimento não se acha na “esquina”. É preciso aprofundar o paradigma teórico que dá sustentação ao processo de trabalho do assistente social, para, depois, ir aos autores do Serviço Social para se direcionar este conhecimento à intervenção na articulação dos fundamentos teórico-metodológicos, éticos-políticos e técnico-operativos.

Sem conhecimento profundo da raiz teórica não adianta decorar Iamamoto, José Paulo Neto, Faleiros, Martinelli e tantos outros, porque retornamos ao começo. E agora? O que fazer?

Questão Social é o objeto do Serviço Social. É a categoria que dá argumentação e sustentação ao Projeto Ético-Político. Que denuncia a exploração, a desigualdade social, que escancara a sociedade de classes e desmascara a fala daquele jornalista da Globo News, no dia 04.11.2006, ao explicar acabrunhado o resultado das eleições: “foi o Brasil que não paga impostos que ganhou”, denunciando, sem querer, a desigualdade social com que vive a imensa maioria da população brasileira.

E é esta população, excluída, desfiliada, sem direitos, que se constitui no nosso universo de usuários, que necessita da interlocução profissional para a garantia de seus direitos.

Portanto, a nossa identidade profissional se consolida a partir da Questão Social ao ser apropriada na teoria, desvendada no cotidiano dos sujeitos e superada através do nosso processo de trabalho. Para quem aprofunda seu conhecimento teórico e se apropria dos fundamentos do Serviço Social, assumindo na prática a Questão Social como seu objeto profissional, sempre haverá trabalho.

Mas para quem se conforma com um conhecimento pífio, que se especializa em ser eficiente e eficaz e engole o eterno discurso que na prática a teoria é outra. Para estes, o Mercado reserva o espaço da tarefa, da subserviência, do espectador, da mesmice cotidiana. Porque assume o objeto institucional como seu, perde a identidade, trabalha no aparente e viola direitos.

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