segunda-feira, 5 de abril de 2010

SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL E RESISTÊNCIA!

Durante minha trajetória profissional, sempre, quando perguntada por assistentes sociais, profissionais de outras categorias e de alunos sobre a concepção de Serviço Social, me confrontava com a seguinte questão:

Afinal, o que é Serviço Social?

Inicialmente sentia uma espécie de susto, depois um "nó" na garganta e passava a explicar a profissão descrevendo ou a rotina institucional ou, então, a explicava através dos instrumentais, dizendo: "nós fizemos entrevista, grupos, visita domiciliar ou, então, nós atendemos a família". E aquele gosto amargo permanecia. Eu sabia que era diferente, mas não sabia dizer, explicar. E essa falta de conhecimento me remetia à questão da identidade e do objeto profissional.

Nesta longa caminhada profissional, fui aprofundando o meu conhecimento sobre inúmeras refrações da Questão Social, como: dependência química, violência doméstica, abuso sexual, exploração do trabalho infantil, abandono, adoção, Redes, dentre tantas outras. Mas este conhecimento, embora fundamental, não me respondia a questão sobre a profissão. E, assim, fui caminhando em busca da resposta que me desse segurança no cotidiano profissional, que me garantisse possibilidades de fazer os enfrentamentos nos espaços profissionais, quando um chefe ou, então, outro profissional, que não fosse assistente social, dissesse o que eu teria que fazer, sabendo mais do que eu sobre a profissão que eu exercia. Portanto, precisava saber para que a minha auto-estima profissional não sucumbisse a qualquer questionamento.

O meu primeiro movimento foi o de me apropriar teoricamente dos fundamentos do Serviço Social, não só estudando Martinelli, José Paulo Neto ou Iamamoto, dentre outros, mas principalmente buscando a Teoria Marxista e me apropriando do Método Dialético Materialista. O segundo movimento foi o de me apropriar do significado teórico de nosso Projeto Ético-Político, que nada mais é do que se apropriar da contradição e ocupar os espaços de resistência. O terceiro movimento foi a apropriação da Questão Social como objeto genérico do Serviço Social, em que fica explicitado, delimitado, qual o espaço do social que cabe ao Serviço Social. O quarto movimento foi a articulação desses fundamentos na prática, articular a teoria à prática cotidiana, isto é, a aplicabilidade do Método Dialético Materialista através da Metodologia da Prática Dialética, na qual tão intensamente trabalhei, apliquei e defendi em Tese de Doutorado, referendada e aprovada por Maria Lúcia Martinelli.

Desde que comecei essa caminhada entendi e me apropriei dos Fundamentos do Serviço Social e passei a nomeá-los de Núcleo Duro da profissão a partir de 2006. Essa apropriação me possibilitou, então, finalmente, responder a tal pergunta: "Afinal, o que é Serviço Social?".

E a respondi premida pelas circunstâncias, em 2008, em São Luis do Maranhão, antes de iniciar o Curso de Perícia Social, promovido pelo Ministério Público. Fui procurada pela TV local, que estava cobrindo o evento, e as assistentes sociais solicitaram que eu desse uma visão exata da profissão, para que entendessem que o Serviço Social não se restringia a atender os pobres e a dar cestas básicas.

Já com os fundamentos maturados, respondi imediatamente: Serviço Social é uma profissão que dá visibilidade ao invisível, àquilo que ninguém quer ver. Logo, trabalha na ótica dos direitos, ocupando espaços de resistência.

E esta definição me deu o sentido do Serviço Social como profissão e de sua operacionalização no cotidiano dos sujeitos, usuários atendidos diariamente pelos assistentes sociais. E senti um orgulho imenso de ser assistente social!

Logo, trazer as cotas, a luta das mulheres, o MST, é dar visibilidade ao movimento da sociedade e sua estrutura centrada na relação capital e trabalho. É a denúncia pública dos marcos de violação de direitos que chega a nós, assistentes sociais, pelo sujeito, através do dependente químico, da violência do pai contra os filhos, da menina explorada sexualmente. Então, transitar profissionalmente entre o macro e o micro que a Questão Social nos proporciona como objeto profissional nos dá a dimensão exata da ocupação do espaço de resistência, o lugar que nos cabe na defesa dos direitos.

Assistente Social Maria da Graça Türck

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