quarta-feira, 10 de março de 2010

Questão Provocativa: até quando perdurará o racismo no Brasil?

Leia o artigo de Elio Gaspari e se posicione:

A teoria negreira do Dem saiu do armário

O senador Demóstenes Torres (Dem-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.

Quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:

"As negras foram estupradas no Brasil. A miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".

O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.

Gilberto Freyre escreveu o seguinte:

"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".

"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."

"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no Sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."

Demóstenes Torres disse mais:

"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século XX, o escravo era o principal item de exportação da economia africana."

Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.

No início do século XX os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura, o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou História com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.

O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.

Um comentário:

Anônimo disse...

teoricamente as cotas existem para compensar a histórica exclusão sofrida pelos negros no Brasil. É sabido que apenas um pequeno percentual de negros conquistam uma vaga no ensino superior pricipalmente em Universidades Públicas. ora, críticas à parte, as cotas fazem justiça, ainda que tardia, ainda que seja apenas o início das grandes conquistas das quais os negros têm direito e devem buscar. São declarações como essa do senador Goiano que nos levam à reflexão sobre o voto consciente. Se as cotas constituem em uma política segregacionista, qual seria a proposta do citado senador? certamente ele se basearia no liberalismo que tem como bandeira a "livre concorrência". Assim, as coisas ficariam em seus devidos lugares, os "negros", "nordestinos", "os índios", enfim, as classes menos favorecidas se manteriam na invisibilidade, enquanto a minoria dominante se manteria no poder e ditando as regras do jogo. O senador deve ter sdo o idealizador do comercial da Mastercard: "passar no vestibular, não tem preço"

valdiney - mg