O que as une?
A dor. A dor de não se reconhecerem mulheres. De se perceberem somente mães, donas de casa, empregadas de filhos e de maridos/companheiros. Que, entorpecidas por uma realidade cruel, vão se constituindo “clientes” dos programas de qualquer município, incentivadas pela forma como muitas vezes são tratadas. E, assim, vão se constituindo espaços de toma-lá-da-cá, mas, ao mesmo tempo, também espaços de luta, em que a contradição vai se explicitando pela disputa inexorável na briga pelos direitos se contrapondo aos que as vêem como possibilidades da troca de favores. É nesta turbulência de interesses que se vai constituindo uma resistência que se explicita pela recusa do profissional assistente social em trabalhar com o “queixume”, traduzido como uma ladainha rotineira, esperada para justificar o assistencialismo em detrimento aos direitos. Elas aprenderam que esta atitude pode ser transformada em estratégia de sobrevivência.
E, assim, o assistente social que quer ir além do aparente, que reconhece as artimanhas da exclusão social, assume como eixo de seu processo de trabalho com estas mulheres a busca, mesmo que no caos cotidiano, por resgatar a mulher esquecida pelo cuidado dos filhos, pela lida doméstica e pela exigência dos maridos/companheiros ao tratá-las como recipientes de esperma.
Mas onde está a mulher mesmo?!
Neste contexto embrutecido, instituir processos de trabalho na garantia de direitos é como garimpar em terra arrasada, em que se esquece da palavra, do carinho, do elogio. É resgatar o brilho no olhar ao oportunizar a sua conexão consigo mesma, com sua sexualidade, com sua feminilidade, com sua competência. É trazer para este contexto a possibilidade de se concretizar o Projeto Ético-Político ao se adquirir a consciência de que é nesta realidade dura e desumana que a humanidade se expressa para acolher o outro e dar-lhe a dimensão exata do direito.
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck
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