sexta-feira, 15 de agosto de 2008

REFLEXÕES DA TESE DE DOUTORADO: PROCESSOS DE TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Por que processos de trabalho?

A ruptura teórica assumida pelos assistentes sociais nas décadas de 1980 e 1990 legou para a categoria uma outra maneira de ler a realidade. Demarcou o espaço de resistência a partir da apropriação da Questão Social como seu objeto, explicitando a contradição. Assumiu como orientação social da profissão a defesa intransigente de direitos e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária, através de seu Projeto Ético-Político. E se apropriou da profissão como partícipe da divisão sócio-técnica do trabalho e, conseqüentemente, proporcionou ao assistente social a consciência de sua condição de trabalhador, indicando o seu lugar no mundo do trabalho, sujeito a todas as implicações que qualquer trabalhador está sujeito: precarização do trabalho; exploração (mais-valia); salários indignos; trabalhos informais com remuneração aviltante; demissões injustas; dentre tantas outras, que dão sustentação ao lucro excessivo pela concentração de renda e a exploração, pela mais-valia.

Logo, além de nos constituirmos como trabalhadores, executamos processos de trabalho e, para tanto, é necessário nos apropriarmos dos Fundamentos do Serviço Social, através, então, do paradigma marxista para consolidar esta apropriação. Portanto, desvendando o significado do trabalho como valor-de-uso e como valor-de-troca.

Marx, ao tratar sobre o trabalho humano, distingue três características: sua dimensão teleológica; capacidade de uso e criação de instrumentos; e de novas necessidades. Na dimensão teleológica, está posta a capacidade do homem antes de realizar um trabalho, de projetar antecipadamente em sua imaginação o resultado do mesmo. Logo, ao concretizá-lo, produz a mudança de forma da matéria natural, mas, nela, realiza seus próprios fins. Na dimensão do uso e criação de instrumentos (meios de trabalho), está posto entre o homem e seu objeto o “como vou executar esta ação?”. É, então, necessário ter à mão meios para se atingir os objetivos antecipados pela dimensão teleológica em relação ao trabalho que quer se executar. Portanto, nos meios de trabalho estão objetivadas não só as formas das atividades, que são necessárias para executá-lo, como também as necessidades humanas – a terceira característica -, isto é, o seu valor-de-uso. Logo, “merece ser salientado que o trabalho é também criação de novas necessidades e, neste sentido, um ato histórico” (MARX e ENGELS, 1977 apud IAMAMOTO, 2007, p. 350).

Ao se criarem novas necessidades, se faz movimento para a superação das antigas necessidades e este transforma os meios para satisfazer as novas. Logo, então, se recriam as condições sociais em que se efetiva o trabalho. O sentido do trabalho passa a se constituir a partir de sua materialidade, ou seja, produz meios de vida, a partir dos quais os homens produzem sua vida material (produção objetiva – coisas materiais). Ao mesmo tempo, se constitui pela sua existência no sujeito, isto é, porque é pela capacidade deste sujeito de acumular novas capacidades e novas qualidades que o trabalho se torna processo de criação e acumulação (produção subjetiva – subjetividade humana). É aqui que emerge a consciência, porque “o produto do trabalho do homem já existia idealmente na ‘representação do trabalhador’” (LUKÁ S, 1978, apud IAMAMOTO, 2007, p. 351).

Contudo, na sociedade capitalista o trabalho se constitui a partir daquele valor-de-uso e do valor-de-troca. Este último que acaba no processo de circulação por abstrair a qualidade do trabalho, reduzindo-o a uma qualidade possível de ser trocada por salário.

Na sociedade capitalista, o trabalho ao adquirir o valor-de-troca, se transforma em trabalho abstrato, perdendo seu sentido humano.

Portanto, o assistente social como qualquer outro trabalhador vende sua força de trabalho. Para seu empregador, seu trabalho tem um valor-de-troca, deixando-o sujeito a todas as injunções da classe trabalhadora – esta é uma das determinações de seu trabalho – se constituindo, pois, como trabalho abstrato.

Logo, a Questão Social, é, nesse sentido, justificadamente o objeto eleito do Serviço Social por envolvê-lo ciclicamente. Está aí como o cerne geracional e é o fim do processo de intervenção. Se constitui, então, no centro do “furacão”, porque não só engloba a profissão pela própria contradição, como o profissional também vive, como sujeito e trabalhador, as suas expressões.
Maria da Graça Türck

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