segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

O DESAFIO PARA TRABALHAR COM GARANTIA DE DIREITOS

O primeiro desafio que nós, assistentes sociais, temos que nos confrontar para trabalharmos com garantia de direitos é nos apropriarmos da perspectiva teórica que desvenda a violação de direitos em uma sociedade latino-americana. É irmos em busca da contradição, da totalidade e da historicidade. Um trio categorial imprescindível para entender, por exemplo, o morador de rua que cotidianamente atravessa nosso caminho ao perambular pelas ruas de qualquer cidade brasileira.

Não é possível trabalharmos com garantia de direitos a partir do que se está tentando implantar na sociedade gaúcha – que a violência é doença.

As artimanhas que a irresponsabilidade de parte da sociedade hegemônica, dita pensante, utiliza para justificar uma sociedade desigual chega às raias da hipocrisia mais perversa.

Como é cômodo julgar a violência pelo viés da doença. Aí, tudo se explica e intencionalmente a responsabilidade vai se diluindo e consolidando a alienação.

Pai agressor, cidadão desempregado, culpa de quem? Provavelmente deste homem, que naturalmente, não estudou porque não quis, está desempregado porque não se capacitou e agride o filho porque é doente.

Como é fácil e cômodo trabalhar com uma compreensão teórica que nega a sociedade de classe, que ignora a desigualdade e que explica a violência pela desadaptação e pela doença.

Como é fácil propor soluções, como o controle da gravidez precoce com adolescentes “pobres”! Como é fácil utilizar justificativas em que teremos menos “bandidos” para assombrar os “homens de bem” da sociedade brasileira, estes, sim, “trabalhadores” que se beneficiam da concentração de renda, do agronegócio e do sistema financeiro, dentre tantos outros...

Trabalhar com garantia de direitos não é fácil e, para nós, assistentes sociais, que temos como orientação de nossa profissão a garantia intransigente de direitos e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária, é mais difícil.

É mais difícil porque temos que assumir que o nosso objeto de trabalho é a Questão Social, e que o nosso espaço de atuação vai se localizar exatamente na contradição, ocupando os espaços de resistência.

Não temos escolha, porque esta profissão assumiu na sua origem os “pobres” como sujeitos de sua intervenção, logo, temos que explicitar a nossa posição frente às desigualdades sociais. Assistente social sem posição em relação à violação de direitos e sem a apropriação da categoria totalidade tem o título, mas não sabe a que veio como profissional. Fazer de conta frente à violência cotidiana é negar a própria profissão que elegeu para exercer. É negar a história de uma profissão que vem sucessivamente se superando para encontrar um caminho para dar voz e vez para quem tem todos os seus direitos negados.

Sabemos que foi no transcorrer da consolidação do Serviço Social como profissão que nós, assistentes sociais brasileiros, como categoria, ampliamos a nossa compreensão teórica do surgimento da “pobreza” latino-americana e encaramos de frente a desigualdade social, não como produto de uma patologia, mas, sim, como produto intencional da relação capital e trabalho que se instituiu a partir da Questão Social.

Logo, é necessário que cada vez mais, nós, assistentes sociais, nos apropriemos do conhecimento teórico que faz o contraponto ao que está posto na sociedade brasileira e que dá sustentação ao nosso processo de trabalho.

Que possamos assumir com ousadia o nosso Projeto Ético-Político para irmos para a luta competente pela garantia de direitos, com a certeza de que a dignidade profissional se conquista a cada dia que a luta se realiza.

Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Nenhum comentário: