terça-feira, 25 de maio de 2010

A CONTRADIÇÃO COMO ESSÊNCIA DO SERVIÇO SOCIAL

Hoje, o dia cinzento e úmido, é um dia propício para a reflexão. Um dia em que mais uma vez me debruço sobre a profissão após um fim de semana recheado de discussões sobre ela, no curso de Perícia Social que estamos ministrando na GRATURCK.

Sai ano, entra ano, independente de quantos cursos ministramos, em cada um deles, se materializa a fragilidade da apropriação do conceito do Serviço Social como profissão.

A pergunta é sempre a mesma: afinal, que profissão é esta? De onde vem essa fragilidade que nos tornam profissionais tão inseguros querendo agradar “gregos e troianos” nos espaços institucionais como estratégia de sobrevivência profissional? É culpa nossa? É da formação? É de quem, então?

É por aí, que me somo ao dia cinzento, mas sem o pessimismo que este cinza teima em concretizar, que vou encarar o desafio e materializar as minhas reflexões.

O Serviço Social é uma profissão que tem sua origem na contradição. Antes de tomarmos consciência da contradição, ela já era a essência da profissão. Antes, pela forma como o Serviço Social se originou e como se instituiu no Brasil (1930), Era Vargas, já veio com uma intencionalidade mascarada de ajuda, de não reconhecer a sociedade capitalista que estava se instituindo no Brasil, pela rápida industrialização e pela efervescência do movimento operário.

Logo, veio para se instituir como braço da classe burguesa, para trazer o conformismo, a culpabilização e a patologia para explicar o social. Não dá para estranhar, porque as primeiras assistentes sociais, mulheres, faziam parte da elite brasileira, logo, ingenuamente, defendiam os interesses da classe a que pertenciam. A apropriação da contradição como essência da profissão demorou a ser oficialmente assumida pela categoria. Foi por volta dos anos de 1990 que a ruptura teórica aconteceu e se materializou o Projeto Ético-Político do Serviço Social, indicando a orientação social da profissão como a defesa intransigente dos direitos humanos e a luta por uma sociedade justa e igualitária. E, pasmem! a maioria dos assistentes sociais confundem o Projeto com o Código de Ética (1993).

Se desconhecemos o nosso Projeto Ético-Político, ignoramos a contradição e consequentemente não nos apropriamos da Questão Social como objeto genérico do Serviço Social. Logo, os Fundamentos do Serviço Social se perdem nos discursos vazios de sentido porque não são operacionalizados na prática miúda dos assistentes sociais.

E, gradativamente, os nossos assistentes sociais, teóricos da profissão, vão ficando inteligíveis para os assistentes sociais que estão na linha de frente na operacionalização das políticas públicas ou nos espaços sócio-ocupacionais. E esse fosso criado pela falta de apropriação de um conhecimento teórico que se constituí como núcleo duro da profissão e das raízes teóricas que lhe dá sustentação, como a teoria marxista e o Método Dialético Materialista Histórico, não é muitas vezes suprido pela categoria.

Dessa forma, o que resta aos assistentes sociais que executam seus processos de trabalho na prática miúda nos diversos espaços institucionais e sócio-ocupacionais? Ouso afirmar que inicialmente, sentimos um gosto amargo proporcionado pela baixa auto-estima profissional. Depois uma raiva insana pelo silêncio que se concretiza pelo grito preso na garganta porque não conseguimos materializar a contradição. Em seguida vem o conformismo que vai dar sustentação a uma prática burocrática ou então, a desistência da profissão, nos levando, muitas vezes, a busca do curso de Direito, uma profissão com mais visibilidade social.

Mas também optamos pela luta, pela apropriação e aprofundamento do conhecimento, pela materialização da contradição ao darmos, a partir de nossa prática miúda, visibilidade a nossa identidade social, porque essa profissão não só nos dá condições de lutarmos pelos direitos, mas sua própria existência nos remete a contradição que vamos materializar não só no cotidiano dos sujeitos, mas em nós mesmos, como assistentes sociais!

Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Um comentário:

Lilian Schreiner disse...

Oi, Graça. Te acho uma profissional brilhante. ótimo texto...Lilian Schreiner