Este é um momento propício para se pensar a profissão e suas lutas para construir e consolidar uma identidade diferente da identidade atribuída pelo capital, quando ela foi intencionalmente pensada, primeiramente pela via da caridade, depois pela via da manutenção do conformismo e da miopia de pensar e intervir no social a partir da culpabilização do sujeito e de suas relações afetivas.
Hoje, é um dia para se comemorar a profissão, que ousou dar um salto qualitativo na grande virada ao fazer a opção pelo Projeto Ético-Político: “a defesa intransigente de direitos e a luta por uma sociedade justa e igualitária”. Um Projeto que indica a orientação social da profissão e se sustenta nos Fundamentos Teórico-Metodológicos, Éticos-Políticos e Técnico-Operativos, que “reconhece a Questão Social como base de fundação sócio-histórica do Serviço Social” (IAMAMOTO, 2001, p.57).
Logo, neste dia tão especial, quero fazer um contraponto, em que parte da categoria dos Assistentes Sociais vem utilizando teorias pós-modernas, produzindo um movimento de ameaça ao Projeto Ético-Político, sustentando esta opção, a partir de garantir a liberdade de escolha ao utilizar outras teorias para intervir na realidade.
Neste momento quero compartilhar com vocês a reflexão que fiz, levada pela pergunta de uma aluna/assistente social ao se referir à Teoria da Complexidade, que vem sendo utilizada por parte da categoria, justificada pela liberdade de escolha. Parto, então, da seguinte premissa: a complexidade é uma teoria para ler a realidade e, segundo Minayo (2007), não tem método nem metodologia, logo, para uma profissão como o Serviço Social, que tem na sua essência a intervenção no cotidiano, pode-se inferir que não se aplica. Mas, mesmo que se aplicasse, a argumentação da liberdade de escolha não serve, porque a opção pelo Projeto Ético-Político está articulada à Questão Social. E esta nos diz que a sociedade que está aí se constitui pela violação de direitos e que, para intervir no cotidiano dos sujeitos sociais, é necessário ocupar os espaços de resistência. É dar visibilidade ao invisível, isto é, possibilitar a garantia de direitos a estes sujeitos sociais que trazem em suas vidas todas as expressões da Questão Social. Logo, a argumentação da liberdade de escolha para negá-la vai ao encontro da destruição do Serviço Social como profissão, porque vai mexer com o seu “coração”.
É diferente, por exemplo, da Sociologia, que tem como objeto profissional a “construção de conhecimento”. Para os sociólogos é possível utilizar qualquer teoria para analisar os fenômenos sociais e interpretá-los à luz de referenciais teóricos diversificados, sem com isto destruir o seu objeto profissional.
No entanto, para nós, Assistentes Sociais, não. Ao negarmos nosso objeto profissional – Questão Social -, estamos negando a nossa própria essência, porque este implica em “dar conta das particularidades das suas múltiplas expressões da Questão Social na história da sociedade brasileira, é explicar os processos sociais que as produzem e reproduzem e como são experimentadas pelos sujeitos sociais que as vivenciam em suas relações sociais quotidianas. É neste campo que se dá o trabalho do Assistente Social, devendo apreender como a Questão Social em múltiplas expressões é experenciada pelos sujeitos em suas vidas quotidianas” (IAMAMOTO, 2001, p.62).
Portanto, neste dia tão especial, é necessário qualificarmos os caminhos de intervenção profissional cotidiana a partir dos Fundamentos do Serviço Social para consolidarmos esta profissão que optou pela via do direito como orientação social da profissão.
Feliz Dia dos Assistentes Sociais!
Maria da Graça Maurer Gomes Türck
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