sexta-feira, 21 de novembro de 2008

IDENTIDADE DA PROFISSÃO NOS ESPAÇOS PROFISSIONAIS

Esta reflexão se inicia por uma pergunta que vem se constituindo pelas diversas falas que emergem dos assistentes sociais ao trazerem suas experiências profissionais cotidianas. Afinal, o que está acontecendo com a profissão no “tempo miúdo” do cotidiano profissional?

Muitas queixas dos assistentes sociais retratam o assédio moral como as que a seguir vou explicitar.

“Sou um vaso de enfeite! Sou uma recepcionista de luxo! Eles me jogaram no arquivo morto, porque tenho posição. Trago eventos para me fazer presente. A equipe médica manda e não pergunta. É uma soberba só. Eles acham que vou atender naquele espaço onde antes era um banheiro!”

Outras retratam a identidade atribuída ao se referirem aos processos de trabalho.

“Faço, faço, faço, mas não sei o que é do Serviço Social. Faço entrevista, visita domiciliar, encaminhamentos. Quando chego em qualquer lugar, sempre dizem o que devo e o que não devo fazer como assistente social.”

É uma história que se repete, pode-se inferir, do Oiapoque ao Chuí. Falas que se ouvem nos espaços mais diversos em que circulam assistentes sociais. Em cursos ministrados, em comentários informais e na voz daqueles que se manifestam em Congressos e Encontros, onde poucos escutam.

Estou cá a pensar, mas onde é que se localiza o “nó” que tem se tornado a perda da alegria, da esperança e da credibilidade em relação à profissão?

Esta situação expressa pelos assistentes sociais retrata a burocratização dos processos de trabalho, que torna os assistentes sociais da prática em tarefeiros em sofrimento ou tarefeiros acomodados. Ao buscar, então, respostas a tanta insatisfação em relação à profissão, a não apropriação da orientação social da profissão é explicitada.

Muitos assistentes sociais vacilam quando se pergunta qual é o Projeto Ético-Político da profissão. E este vacilo é um indicativo do que vem acontecendo em relação à identidade atribuída. Em primeiro lugar, os espaços institucionais, ou organizacionais, são espaços que reproduzem as relações sociais postas pela sociedade capitalista, logo são espaços que se movimentam pelo lucro, pela disputa de poder, pela competição destrutiva, pela reificação das relações, portanto, nada de novo no “front”. No entanto, tem algo em comum entre os assistentes sociais e o assédio moral. O fato de não se saber o que se é, fragiliza o profissional, e, como há a fragilidade no poder argumentativo em relação à profissão, o assistente social se torna presa fácil para os mandos e desmandos da instituição e de outras categorias profissionais. Em segundo lugar, a fragilidade de apropriação do Projeto Ético-Político permite a seguinte leitura: como a formação trata desta apropriação? Como articula o Projeto com a prática cotidiana?

São questões que também levam a algumas reflexões:

Se o Projeto Ético-Político não é apropriado, não se trabalha na ótica do direito, logo, se desconhece na prática o que significa a orientação social da profissão. Conseqüentemente, se ignora a Questão Social como objeto genérico da profissão que vai explicitar a contradição no concreto. Portanto, é neste concreto que a Questão Social vai se expressar pela desigualdade e pela resistência. Então, pode-se afirmar que ao não se ter a propriedade da Questão Social, se fragiliza a identidade porque não se sabe qual o lugar que a profissão deve ocupar para concretizar o seu Projeto Ético-Político através dos seus processos de trabalho.

Logo, a orientação social dada pelo Projeto Ético-Político explicita com propriedade que é no espaço de resistência o lugar do Serviço Social. Agora, sem a apropriação e conhecimento dos seus Fundamentos, como o paradigma marxista, o Método Dialético Materialista, a Questão Social, o Projeto Ético-Político e a Metodologia da Prática Dialética, a realidade profissional que vai restar para os assistentes sociais é a da tarefa, da identidade atribuída e do objeto restrito.

Fica, então, a pergunta: qual é a responsabilidade da academia na formação dos assistentes sociais? Por que se constitui este fosso entre a academia e a prática?

Logo se chegará ao “nó” que deve ser respondido por aqueles que têm o compromisso com a formação. E este “nó” vai se caracterizar pela seguinte questão: como está se constituindo a formação dos assistentes sociais na atualidade que está permitindo este sofrimento ou acomodação quase que coletiva?

Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

2 comentários:

Andréia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Andréia disse...

Enquanto estudante, estagiária e futura Assistente Social,não raras são as vezes que visualizo esta acomodação no campo de estágio e no meu processo de formação. Estamos inseridos dentro da lógica do mercado, e assim nosso pensamento muitas vezes remete-se nesta lógica. Mas devemos ter nosso pensar e agir norteado pelos principios ético-político da profissão, rompendo com a idéia de classe subalterna, o qual muitas vezes os próprios profissionais rotulam-se assim, através de ações que não visam a garantia de direitos, agindo de forma pontual e fragmmentada em suas intervenções. Romper com esta atribução de subalternidade e mostrar-se enquanto profissional capaz de intervir nas demandas sociais, não sendo apenas mero executor de tarefas. Ter uma postura ética, requer ter uma visão de homem e mundo, na sua totalidade, contradição e historicidade