segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DIÁRIO DE FÉRIAS: REFLEXÃO SOBRE A QUESTÃO SOCIAL

Alemanha – Frankfurt. Uma cidade destruída pela guerra e totalmente reconstruída. Tornou-se um símbolo do capitalismo. Muitos, muitos bancos, que, segundo a guia, se multiplicam cada vez mais, imensos – escuros, imponentes, dá uma sensação de faz-de-conta. Frankfurt à noite, muito mais escura. Prédios semi-iluminados, cidade depressiva. As pessoas se vestem de negro e cinza (estilo gótico). Assustador. Único bairro iluminado é o bairro vermelho. Uma rua em que estão localizadas as casas de jogos, boates de prostituição, drogas, etc... Segundo a guia, um bairro muito perigoso. Só se passa de carro ou, se for a pé, em um grande grupo, caminhando devagarinho. Bairro dominado pela “máfia russa”. Todos sabem, mas não fazem nada. Claro, pode-se inferir que o dinheiro da máfia sustenta os grandes bancos. Muito dinheiro. Daqui, segundo informações, é que saem para o mundo os materiais necessários para a fabricação de drogas sintéticas: anfetaminas, cristal, metanfetaminas. Logo, a riqueza sustentada pelo sofrimento alheio. Frieza, indiferença e interesse são as marcas registradas que perpassam aos olhos atentos de estrangeiros do 3º mundo. Ali as pessoas te olham, mas não te enxergam.

Agora, mais do que nunca, entendo MARX e a sua necessidade de entender a humanidade ao analisá-la pela ótica da economia política. Uma civilização que vem se construindo através do mercado e, sistematicamente, vem perdendo a dimensão de sua própria humanidade.

“Olhos que não querem ver”, MARX sabia o significado. Olhos que querem ver são olhos que enxergam com a alma, em que o ser humano tem significado de sujeito singular e não de “coisa”.

É muito dinheiro para poucos e muita fome para muitos. Londres, Paris, Frankfurt, centros nervosos do capital internacional, alheios à dor da humanidade, centrados no mercado, no lucro e na exploração, locais onde a fetichização se concretiza pela centralidade e luminosidade dada à “coisa”.

Logo surge a pergunta que nunca quer calar, se organiza e se concretiza: como a Questão Social se expressa na Europa Ocidental?

A resposta vem forte, pela voz e gestos de seus cidadãos mais comuns.

Londres: “os negros não gostam de trabalhar de dia, são preguiçosos e ficam acordados à noite”. As praças públicas cercadas em bairros de luxo, só quem tem a chave do portão as freqüenta. Por quê? Porque os moradores do bairro as cuidam, pagam, são privatizadas, logo, excludentes.

Paris: empregos subalternos ocupados por estrangeiros de países de 3º mundo. Eles aprendem que neste mundo, se tiverem dinheiro, terão valor. Logo, para consegui-lo, aprendem que têm que enganar, extorquir.

Frankfurt: “eles estão dormindo na rua porque querem. Não querem trabalhar. Começam com drogas e terminam com vinho. O governo lhes dá condições de albergue, mas ficam na rua porque querem”.

Pelo jeito, não se questiona a sociedade de classes. Parece que não existe. Tudo é culpa do sujeito ou das etnias. Logo, pode-se inferir que a Questão Social na Europa se expressa pela alienação, através do preconceito que se viabiliza pela exclusão, muito bem caracterizada nas relações cotidianas.

Maria da Graça Maurer Gomes Türck

Nenhum comentário: