A leitura que nós, assistentes sociais, a partir dos fundamentos do Serviço Social, podemos realizar através da realidade expressa em artigos postados neste blog, nos dá a dimensão exata do significado de nosso Projeto Ético-Político, do espaço de resistência, da Questão social como objeto do Serviço Social e do Método Dialético Materialista para realizar a análise que se impõe desta realidade retratada. Logo, vamos retomar a leitura dos mesmos a partir do que fundamenta a nossa profissão.
A sociedade capitalista de cunho periférico se constitui pela relação capital e trabalho sustentada pela base econômica que objetiva as relações sociais consolidando então a realidade social pela desigualdade, uma das faces que explicita a Questão Social.
Estas relações sociais para serem mantidas são sustentadas por uma superestrutura, que as subjetiva e que lhes dá sustentação legal, política e ideológica. Logo, a superestrutura, constituída pelo sistema de leis, assegura a consolidação da defesa dos interesses do grande capital. O sistema político vai legislar em defesa desses interesses, e o sistema ideológico vai, então, ser articulado no convencimento da sociedade de que a desigualdade social é produto de atos individuais dos homens. E este convencimento é realizado também através dos meios de comunicação – grande mídia, e da educação acrítica, que desemboca ou na falta de informação, ou na sua distorção, conseqüentemente transformado os sujeitos pela subjetivação de sua subjetividade na construção e manutenção de uma consciência acrítica que desconsidera o coletivo e fortalece o individualismo.
A partir desta breve reflexão, vamos, então, articular a teoria com a prática, para a apropriação do aparente, desvendando a Questão Social, em que a contradição explicitada pela resistência permite a operacionalização do Projeto Ético-Político através de nossos processos de trabalho na intervenção desta realidade.
No momento atual, a Bolívia, na América Latina, expressa com crueza a Questão Social, através da desigualdade social embutida nos interesses das riquezas minerais, escudada pelo racismo colonialista daqueles que representam a elite branca daquele país. Logo, a base econômica ganha força, por exemplo, através do racismo. Para explicá-la, as categorias historicidade, totalidade e contradição sustentam a análise do momento social, econômico e político daquele país, cuja história destaca o colonialismo predatório em busca das riquezas, o genocídio étnico, a miséria, a exploração e a negação dos direitos indígenas. Ao mesmo tempo, explica o recrudescimento dos conflitos atuais, pela ocupação do espaço de resistência, a outra face da Questão Social se manifestando, quando a maioria da população boliviana elegeu o índio Evo Morales presidente da república e o referendou em plebiscito recente.
Saindo da Bolívia, se chega ao Brasil, mais precisamente na carta de Ana Maria Araújo Freire, viúva do grande educador Paulo Freire. A carta é uma resposta ao encomendado artigo de autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, publicado no catálogo Veja, no sentido de criar no imaginário dos leitores e, conseqüentemente, na sua divulgação, a desqualificação de uma proposta pedagógica criada por Paulo Freire para dar conta da formação crítica no enfrentamento da alienação que se constitui em um aliado da exploração e da manutenção dos interesses do grande capital. Pode-se também identificar que estas duas “jornalistas” são dignas representantes da classe dominante, ao se constituírem como hospedeiras da opressão, negando sua condição de classe e vendendo os interesses do grande capital ao defenderem a educação bancária, que se torna tão importante e estratégica no momento em que a educação é transformada em mercadoria.
Ainda se tem a tão propalada crise financeira estadunidense, que nada mais é do que o engodo do grande capital que supervalorizou a especulação de títulos de aplicação duvidosa, chamada pela grande imprensa de “papéis podres”.
Qual a conseqüência disto, que não é explicitado abertamente?
É a contradição do grande capital, que, para “ser salvo”, necessita da injeção de dinheiro público. Logo, indo por terra o que é tão propalado pelos neoliberais: a competência do MERCADO em detrimento da gestão do Estado em áreas fundamentais. Pode-se, então, perguntar: qual vai ser a conseqüência desta crise financeira para o povo estadunidense? Resposta óbvia para quem tem a Questão Social como seu objeto e o Método para realizar esta análise da atual conjuntura que está mexendo com o sistema financeiro mundial. Aqueles mais desfavorecidos vão deixar de receber via políticas públicas seiscentos bilhões de dólares, e a sociedade estadunidense vai pagar este dinheiro que está sendo desviado para salvar o capital privado.
E uma pergunta que não quer calar: como ficam, no Brasil, os fundamentalistas defensores da privatização do Estado?
Para eles uma reflexão: o velho MARX, não está ultrapassado e muito menos morto. Está mais vivo do que nunca, nos ensinando como entender as artimanhas do capitalismo.
Portanto, os fundamentos do Serviço Social vão dar conta deste entendimento e de que o movimento de operacionalização do Projeto Ético-Político implica na ocupação dos espaços de resistência para denunciar e dar visibilidade aos meandros da Questão Social, que, fragmentados, são individualizados e “vendidos” à sociedade com a criminalização do coletivo nos movimentos de resistência e na des-responsabilização dos construtores da desigualdade social, pela concretização e banalização da exclusão social.
Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck
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