Embora o Serviço Social se organize como uma profissão liberal, os assistentes sociais ainda não se apropriaram das possibilidades de constituírem espaços de trabalho que impliquem em serem partes desses espaços como profissionais capazes de trazerem para a área de serviços uma outra forma de se instituírem como trabalhadores autônomos.
O francês Thierry Gaudin, fundador e presidente do Foresight 2100, afirma que “a era do emprego se encerra. Começa a era da prestação de serviços e dos trabalhadores” (2008). Esta afirmativa traz embutida uma nova estrutura no mundo do trabalho e vai implicar em um novo perfil de profissional – os profissionais pluriativos, aqueles que desenvolveram potencialidades cujos conhecimentos abrangem as necessidades de um mundo real que está se transformando, saindo de um mundo de “produtividade sem limites e consumismo insustentável, para a era de prestação de serviços e terceirizações”.
O que isto tem a ver com os assistentes sociais? Quais as ferramentas que os assistentes sociais podem se utilizar para entrar com competência neste novo mundo do trabalho?
A partir destas questões podemos fazer a seguinte reflexão: a transformação da educação em mercadoria modifica os espaços de formação acadêmica em grandes complexos de vendas de mercadorias e, conseqüentemente, o que vai se instituindo, pela força do mercado, é a quantidade versus qualidade. Logo, a cada semestre têm-se mais profissionais disputando uma vaga nos concursos públicos disponíveis. Cada vez mais, para uma vaga, têm-se 40 a 50 candidatos, produzindo, então, na consciência coletiva dos profissionais assistentes sociais, recém-formados, a necessidade de conseguir um emprego a qualquer custo, perdendo-se, então, a dimensão do trabalho, independente do emprego.
Logo, ao se perder a dimensão do trabalho nesta perspectiva, não se consegue vislumbrar possibilidades de trabalhos que garantam a sobrevivência cotidiana e, ao mesmo tempo, que permitam a ocupação de diversos espaços a partir de nossa profissão – o Serviço Social.
É importante se apoderar do conhecimento de que o Serviço Social, a partir de seu objeto, Questão Social, dá condições ao assistente social se constituir no mundo do trabalho como um profissional pluriativo, porque garante a este profissional a apropriação das categorias historicidade, contradição e totalidade na vida cotidiana dos sujeitos usuários do Serviço Social. Estas categorias vão dar sustentação ao aprofundamento das refrações da Questão Social a partir do “núcleo duro” da profissão, que envolve os fundamentos do Serviço Social, o Método, a Questão Social, o Projeto Ético-Político e a Metodologia de Aplicação do Método Dialético Materialista. Logo, é necessária a apropriação deste “núcleo duro” que vai garantir a identidade profissional e, conseqüentemente, a intervenção nas diferentes refrações da Questão Social, a partir das especificidades do Serviço Social.
Os espaços profissionais para os assistentes sociais, a partir da Questão Social como seu objeto, vão garantir trabalho, independente das possibilidades de emprego. No entanto, sem apropriação do conhecimento, passa a ser descortinado neste horizonte a precarização do trabalho e a exploração deste profissional como trabalhador.
Para tanto, é necessário estarmos preparados para o que vem se instituindo e se consolidando no século XXI, como afirma Gaudin: “a transformação atual do sistema técnico nos faz passar da civilização industrial para a civilização cognitiva”, portanto, uma profissão que proporciona a apropriação da totalidade no cotidiano das pessoas, potencializa seus profissionais para se tornarem pluriativos e capazes de realizarem o enfrentamento a essa nova dimensão do trabalho, sem perderem e negociarem sua humanidade e seu prazer em exercer o que gostam e que escolheram como profissão.
Um comentário:
Há muito mais gente correndo atrás de um bom serviço do que de um bom produto.
Gabriel Sanchez Kikuchi
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