Este assunto no âmbito do cotidiano profissional e pessoal vem quase sempre sendo visto sob uma perspectiva reducionista e culpabilizadora. Se há uma mulher vítima é porque tem um homem agressor, logo, uma vítima e um culpado. Esta perspectiva produz um efeito devastador no trato da violência contra a mulher. Por exemplo: se a mulher retorna para o companheiro/marido que a agrediu, é porque ela é tão “sem vergonha” quanto ele. E esta atitude vai consolidando no meio profissional o preconceito, isto é, não vale profissionalmente investir esforço e trabalho na mudança. “Esta mulher gosta de apanhar!” - é a máxima que vai permeando os espaços de construção de possibilidades de garantia de direitos.
Esta realidade então vem desvendando o primeiro espaço para ser trabalhado, antes mesmo de se investir em um trabalho com mulheres vítimas de violência: o espaço profissional. É neste espaço que os pré-conceitos se consolidam e vão minar os atendimentos. Portanto, é necessário, antes de tudo, romper com paradigmas que trazem para o contexto profissional o reducionismo no trato com a violência. É propiciar o entendimento que a violência é construída no coletivo e que vai se manifestar através da expressão das necessidades dos sujeitos. Que, em qualquer relação construída, as responsabilidades no direcionamento destas relações fazem parte de todos os envolvidos.
Este seria o primeiro movimento que se deveria realizar para deflagrar a mudança do instituído nos espaços institucionais e ou sócio-ocupacionais que trabalham com violência contra a mulher. A apropriação da totalidade vai dar conta que a violência contra a mulher é só o aparente, porque através dela vêm a violência contra a criança, com o idoso, com as pessoas portadoras de deficiência, dentre outras. É a violência em uma sociedade capitalista tendo sua origem na relação entre capital e trabalho, cujas relações de produção instituem a sociabilidade reificada. Concomitantemente, vai se reproduzindo através de profissionais que, por se apropriarem de explicações reducionistas para explicar tal violência, vão se tornando “hospedeiros da opressão” em relação a si próprios e em relação aos sujeitos de sua ação profissional.
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