segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

TOLERÂNCIA ZERO EM RELAÇÃO AO OPORTUNISMO DA CLASSE DOMINANTE BRASILEIRA

A discussão que hoje toma conta da sociedade brasileira, comandada pelos “dignos representantes da classe dominante deste país” – leia-se o setor da mídia conservadora – é a redução da maioridade penal. Sempre que acontece um crime violento em que se tenha um adolescente envolvido os porta-vozes da dita sociedade dos “homens de bem” vêm a público clamar por esta redução.
Quanta hipocrisia!
Mas o que está por trás deste clamor?
Naturalmente, a necessidade quase visceral de se culpabilizar a pobreza, isentando-se de responsabilidade na consolidação da garantia de direitos para todos.
Em casos envolvendo também maiores de idade, ninguém questiona a participação dos adultos, mas, sim, somente dos adolescentes. Por trás desse clamor, se desvenda, então, o real interesse da elite brasileira.
“Vamos trancafiá-los com 16, quiçá com 14 anos, ou, quem sabe, vamos julgá-los como adultos com 9 anos, ou, então, não vamos deixá-los nascer, esterilizando todas as mulheres pobres deste país. Estas irresponsáveis que dão a luz sem parar a estes futuros bandidos”.
Cada vez mais se explicita na sociedade brasileira a luta de classes. Nunca ficou tão escancarado o preconceito, a pequenez, a mediocridade, a alienação e a prepotência da elite brasileira.
Longe de mim se validar a irresponsabilidade individual da violência.
Aprendi como Assistente Social que num comportamento violento existem vários níveis de responsabilidade.
A social, quando a desigualdade sustenta os privilégios e a concentração de renda. A familiar, quando as relações afetivas se sustentam através da violência doméstica e de abandono sem e com ruptura de presença. E a individual, quando a subjetividade do sujeito sucumbe à banalização da violência.
Mas também aprendi que, em uma sociedade como a nossa, na qual o capitalismo mais selvagem dita as regras, a responsabilidade desta casta seleta tem maior peso.
Sendo assim, enquanto não se cumprir o mínimo, isto é, educação com qualidade e respeito, teremos crianças e adolescentes na rua, sendo transformados pela violência a que são cotidianamente expostos.
Não à redução da menoridade penal!
Sim à garantia de direitos que a Lei 8069/90 preconiza no Estatuto da Criança e do Adolescente!
No entanto, quero mais.
Quero punição exemplar para quem usa levianamente diferentes espaços para pregar a violação de direitos, com o intuito de aliviar sua própria consciência ao se omitir da responsabilidade na manutenção desta sociedade excludente e perversa.
Quero uma discussão responsável em relação à violência individual, familiar, institucional, social, econômica e política.
Quero respeito às diferenças.
Quero o fim do des-serviço que os órgãos de comunicação prestam, consolidando relações em que levar vantagem reduz a zero a urbanidade entre os sujeitos.
Quero que todos tenham acesso ao conhecimento.
Quero ficar surda para a eloqüência dos oportunistas.
Quero justiça para punir os atos que violam direitos, porque sei que por trás de um comportamento violento sempre existirá a esperança da superação – se acreditarmos que o ato é condenável, mas o homem é resgatável.
Maria da Graça Maurer Gomes Türck

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