quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

REFLEXÕES SOBRE O X ENPESS - ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM SERVIÇO SOCIAL (2006.2)

Recife, bela capital de Pernambuco, que retrata com muita crueza a desigualdade social brasileira. Um povo cordato, trabalhador e explorado. É nessa cidade que os contrastes aparecem com intensidade. De um lado o mar, o sol, os banhistas, de outro, a areia – o trabalho informal, a exploração sexual infanto-juvenil e os estrangeiros, sedentos para comercializar o prazer...

A praia de Boa Viagem e os grandes arranha-céus que escancaram a voracidade da exploração imobiliária, em que grandes muros separam os ricos e os pobres, estes, os ricos, guardados a sete chaves pelos muros e pela segurança particular. O medo da violência que a concentração de renda e a desigualdade social criam permanentemente na sociedade brasileira.

População empobrecida e alcoolizada, entorpecida e explorada, este é o retrato do Brasil invisível que tão bem foi explicitado em Recife.

O X ENPESS, cuja temática – “Crise Contemporânea, Emancipação Política e Emancipação Humana” – articulou para a discussão a realidade vivida e as possibilidades de enfrentamento.

Três grandes conferencistas: Dr.José Paulo Neto (UFRJ), Dr.Marildo Menegat (UERJ) e Dra. Marilda Iamamoto (UFRJ), que nos levaram a refletir sobre este mundo real, tão perverso, que faz parte do cotidiano de todos os assistentes sociais.

Dr. José Paulo Neto trouxe para a reflexão a “Crise Contemporânea, Emancipação Política e Emancipação Humana”. Segundo ele, o Serviço Social não pode se render ao que está vindo como retrocesso. É necessário navegar contra a corrente. Esta corrente está centrada em três pilares:

1º - Polaridade mundial entre países ricos e pobres (1980), que vem aumentando desde a primeira década de 1970, pela polarização crescente entre os estados nacionais;

2º - Generalização da xenofobia e do racismo, com limites físicos entre a mobilidade das pessoas;

3º - Crise Ecológica, relacionada aos recursos naturais, principalmente, aos recursos hídricos.

Polemizou a discussão sobre a sociedade civil, a definindo como um espaço mercantil das relações. Um espaço do privatismo, em que é constituído o indivíduo possessivo.
Segundo ele, ao Serviço Social é imperativo o Código de Ética. É necessário ver o homem como ser genérico (Marx). Levantou a premissa que a emancipação humana é incompatível com a ordem do capital.

E que a pedra angular categorial para o Serviço Social é a totalidade.

E, em relação à pesquisa, Neto deu o recado: quem define a pesquisa é seu interlocutor teórico.

Já, na segunda Conferência, Dr. Marildo Menegat e Dra. Marilda Iamamoto trouxeram para a reflexão “A Conjuntura Brasileira, Lutas Sociais e Desafios do Serviço Social”.
Dr. Marildo iniciou as suas reflexões em tempo de barbárie a partir do esgotamento do modelo de exportação a partir de 1990 – em que o capitalismo iniciou uma nova fase – sua reestruturação, que, por sua vez, colocou limites intransponíveis, e foi chamado de globalização. Que este contexto traz três contra tendências:

1ª) Contra tendência – A revolução da microeletrônica, que trouxe a eliminação do trabalho humano, junto com o surgimento de novas matérias-primas oriundas da nafta (um produto do petróleo).

Logo, em seguida, vem a 3ª Revolução Tecnológica, pautada pela energia nuclear, que vai trazer uma mudança orgânica entre o capital variável (mais-valia, exploração) e o capital fixo (estrutural). O que se vê, é sempre uma renovação no processo de produção. Isto é, o que é liberado em um primeiro momento é absorvido no segundo momento.
Segundo Marildo, pela primeira vez na história do capitalismo temos o desemprego estrutural. O então chamado exército de reserva, hoje, é composto pelo o desemprego estrutural. Logo, este contexto aponta para uma crise do capital: em que a menor taxa de lucro depende da exclusão da força de trabalho.

2ª) Contra tendência – em que é possível explorar a força de trabalho profundamente, logo, a recriação do trabalho escravo para a supervalorização do capital.

3ª) Contra tendência – destruição do meio-ambiente para evitar a queda das taxas de juros.

Segundo Marildo, o mundo hoje é um grande mercado de produção de mercadorias. E o capitalismo encontra-se limitado dentro dele mesmo, pelo limite das taxas de juros, que já está posto, e pelo limite que encontra para sua expansão externa.

Segundo ele, a humanidade, se não se constituírem sujeitos sociais, para fazer frente a isto, estará fadada a desaparecer com o capitalismo.

Em relação a este movimento do capital, segundo Marildo, o Brasil passou a ter importância primária, pelo extravismo e pelo agronegócio, que encontra espaço pela desnacionalização de nossa economia e pela desestatização do estado brasileiro. Este quadro é difícil para o desenvolvimento econômico. Se tem aí, então, reflexos para um grande retrocesso.

Segundo o conferencista o Brasil é urbano e industrial e a tendência atual é de estreitar mais a relação entre o campo e a cidade. Logo, a sociedade que se desmorona, também vai se manter. É um tecido social em franca deterioração. Neste contexto a violência é endêmica e permanente. Segundo Marildo, temos duas décadas perdidas. Morrem jovens de 15 a 20 anos e quem morre, são os jovens negros.

A questão então, segundo ele, é, se este quadro permite uma grande saída. Respondeu trazendo que o caminho é pelos Movimentos Sociais. Exemplificou sua resposta através do Movimento dos Sem Terra (MST), que segundo ele, é um sintoma de que seus integrantes não aceitam a forma estrutural da sociedade. Logo, o MST é uma convulsão, é uma reação a tessitura da sociedade atual.

Segundo Marildo, o MST é uma organização da imensa massa de sobrantes, produto destas transformações. Seus integrantes são compostos pelos agricultores, pelos trabalhadores urbanos que voltam para o campo e, atualmente, mais uma segunda massa, composta pelos desempregados estruturais.

Segundo o conferencista, seu contraponto é realizado pela Revolução Verde que tem uma conexão visceral com o capital financeiro.

Já, Marilda Iamamoto, trouxe para a reflexão a necessidade dos assistentes sociais aprofundarem sua competência teórica para decifrar o capitalismo. É necessária, segundo ela, a apropriação da leitura crítica para fazer frente ao cenário atual, que é avesso aos direitos. Para tanto, é preciso realizar uma análise da profissão, e da relação entre as classes e o estado. É necessário avançarmos na crítica teórico-metodológica para dar um tratamento teórico a intervenção. Segundo Iamamoto, devemos reconhecer que o nosso Projeto é dotado de uma dimensão ético e política. Que permite aos homens reconhecer e superar os determinismos que o capital nos impõe. Que ele dá origem a novas formas de enfrentamento.

Em relação a pesquisa, Iamamoto trouxe que os desafios que esta realidade nos impõe é decifrar as novas formas da instituição do capital financeiro.

Tanto Neto, como Iamamoto sugeriram aos assistentes sociais o aprofundamento teórico para a garantia de direitos.

Logo, retomar o cenário social de Recife exposto no cotidiano de sua população é decifrar o monstro que aprisiona os brasileiros a um processo de violação de direitos para garantir a consolidação do capital financeiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Segundo vários profissionais da área de consultor pessoal, a desigualdade social está em crescimento dia a dia.
Acho que é algo que acontece em todas partes e não é fácil de combater.