terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A INVISIBILIDADE E O SERVIÇO SOCIAL

A invisibilidade pressupõe a não existência. Logo, se é invisível, não existe. Se não existe, como podemos definir a sua existência? O fato de negar a existência abre possibilidades de entender a inexistência pela afirmação da existência. Portanto, entender essa afirmação a partir da negação é dar materialidade à contradição.

Este trocadilho nos ajuda a entender o Serviço Social como profissão que atua na contradição através do que chega à prática miúda dos assistentes sociais, a desigualdade social.

E esta constatação nos leva direto para o conceito de Serviço Social publicado no Wikipedia, que conceitua o Serviço Social “como uma profissão de curso superior cujo objeto de intervenção são as expressões multifacetadas da questão social. Tem contribuições da sociologia, psicologia, economia, ciência política, filosofia, antropologia, pedagogia. O Serviço Social é uma profissão de caráter sócio-político, crítico e interventivo, que se utiliza do instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para a análise e intervenção nas diferentes “refrações da questão social”, isto é, no conjunto de desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho”.

Em primeiro lugar, quero contestar esta conceituação da profissão que não diz a que veio. As expressões da questão social compõem a materialização da sociedade capitalista. Elas são transversais a qualquer profissão, e o que diferencia as categorias profissionais entre si, para trabalharem com essas expressões multifacetadas é o seu objeto profissional. Logo, se a Questão Social é o objeto genérico do Serviço Social, ele aponta para o espaço do social que a profissão vai ocupar. E, aí, surge a categoria contradição com força, determinando que o Serviço Social vai se ocupar das expressões multifacetadas da Questão Social pela resistência, logo, vai dar visibilidade ao socialmente invisível.

E nesta lógica, emerge a orientação social da profissão – a defesa intransigente dos direitos humanos e a busca por uma sociedade justa e igualitária, dada pelo seu Projeto Ético-Político. A categoria contradição materializa o objeto do Serviço Social, porque, como o referido acima, vai dar visibilidade ao socialmente invisível, aquilo que ninguém quer ver. Isto é, vai desvendar todos os parâmetros de responsabilidade que estão postos em uma situação de violação de direitos explicitada por um sujeito singular. Só assim, a partir dessa compreensão e apropriação, que o Serviço Social adquire um caráter sócio-político e crítico, articulado ao seu caráter eminentemente interventivo, uma característica de sua origem.

Em segundo lugar, quando a Wikipedia diz que o Serviço Social “utiliza de outras profissões”, para intervir na realidade, ela, a Wikipedia, retorna a origem da profissão, trazendo para a contemporaneidade o caráter de subalternidade do Serviço Social que se servia acriticamente das outras profissões. Deixa de levar em conta uma das categorias teóricas do Método Dialético Materialista, a totalidade, que implica em se apropriar de um fenômeno a partir do conhecimento construído através do paradigma marxista e das teorias críticas. Deixa de lado a própria construção do conhecimento que o Serviço Social vem brindando a décadas a categoria, por inúmeros assistentes sociais, que através da pesquisa, trazem uma nova compreensão teórica de interpretar as expressões da Questão Social materializadas na prática miúda destes profissionais.

Em relação ao instrumental, mais uma vez a incoerência se faz presente neste conceito. Sabemos que o instrumental científico está disponibilizado para qualquer profissão utilizar. O que vai diferenciar é a intencionalidade de seu uso a partir dos fundamentos teóricos metodológicos que dão sustentação a própria existência da profissão. E trazer somente a desigualdade para o contexto do Serviço Social como único produto da Questão Social, é ter uma visão reducionista da realidade posta pela relação capital e trabalho, sem levar em conta a categoria contradição que permite a apropriação da Questão Social pela desigualdade social e pela resistência. E se a resistência é um espaço a ser conquistado porque ela é invisível, se não a capturarmos, nós, assistentes sociais, estaremos fadados a continuarmos a conceituar a profissão a partir do Serviço Social tradicional, teoricamente superado pelos seus fundamentos, deixando de lado a resistência que traz a lógica do direito para viabilizar o Projeto Ético-Político profissional que dá a orientação social da profissão.

Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Turck

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