terça-feira, 2 de junho de 2009

PRBS espetaculariza o que não devia - está passando dos limites aceitáveis...



Passem os olhos por algumas das imagens da campanha contra o crack agora levantada pelo PRBS. Percebam algumas das montagens que serviriam para representar o viciado. É, por vezes, constrangedor...
Uma campanha que se mostra tão maquiada quanto a modelo do anúncio - sim, campanha como anúncio publicitário. Porque não se está falando de jeans descolados de alguma grande marca, ou a nova coleção outono/inverno de alguma loja nova do Barra Shopping. Se está falando de crack, de droga pesada, de fedor.
E este fedor não usa sombra para delinear os olhos como se fosse tendência comportamental da juventude urbana. Este fedor não é branco. É negro, é sujo.
Ele não está na bonitinha tatuada, mas está na menina negra, portadora do HIV, tuberculosa, dormindo no banco, respirando difícil, com um olho entreaberto, morta-viva.
E fede demais. É um cheiro que entranha no corpo, que se espalha como uma nuvem, como fumaça saindo de vidas despedaçadas, pouco a pouco, clamando pela morte.
Não há nada de bonito no crack, não há nada que possa sequer se parecer com um anúncio de moda. Não há nada de classe média no crack...
O maniqueísmo dessa campanha é tão aberrante que enoja mais do que a própria droga em si. Esta é uma epidemia que vem se alastrando há tempos pela cidade de Porto Alegre, mas que aparece, agora, como novidade, enfeitando as páginas da ZMentira e do ClicPRBS, alavancando um sentimento de responsabilidade social naquela que é a empresa que procura ditar os comportamentos da maioria da população gaúcha, maquiando - como maquiou os seus modelos - uma intenção de auxiliar a quem precisa.
Será por que o crack está chegando nas coberturas dos bairros nobres? Será por que pulou os muros dos casarões?
Qual será a fórmula mágica que sairá estampada em camisetas limpas, branquinhas, posadas nos articulistas da grande mãe da mídia gaúcha? Como as famílias devem se portar diante deste problema? "Meu filho conseguirá ler?" - o que comprar, o que vestir, o que dizer em uma entrevista de emprego, para que time torcer, em quem votar, quem é o culpado... Eles dão respostas para tudo. E agora? Qual o final disso?
No final, tudo será varrido para baixo dos tapetes da rua, e quem sofrerá com a continuidade dessa epidemia será o espaço público, sem importância, das praças escuras e viadutos das vias mais movimentadas.
E, então, o PRBS achará outra campanha para fazer, outro mote para soltar todo o seu preconceito de classe, que se apresentará triunfalmente nos seus canais, bradado por algum de seus apresentadores almofadinhas, que questionará: "Quando as ruas de Porto Alegre voltarão a ser dos seus cidadãos?".
E reiniciaremos todo um ciclo, reiniciaremos como se as mentes fossem reformatadas, usando o vício do crack como desculpa para limpar a cidade de seres imundos, sujos e ameaçadores.
"Queremos nossas ruas de volta!" - alguém gritará do auditório milimetricamente montado. Algum funcionário da segurança pública do estado concordará e dirá que é complicado, que essas pessoas trazem insegurança e que a polícia prende, mas logo eles já estão lá, na rua, de novo, amedrontando os pobres cidadãos de bem da Porto outrora Alegre...
E reiniciaremos o ciclo tudo de novo, mais uma vez, de um novo jeito, mas com o velho resultado: o fedor, o fétido cheiro da exclusão, podre, doente, triste.
Algum time será campeão de algum campeonato, alguma empresa trará investimentos para a cidade, haverá um novo megaempreendimento imobiliário na cidade, os shoppings se expandem, algum gaúcho ganha prêmio no exterior, os clubes lutam por seus atletas olímpicos, a Copa está chegando... E a menina aquela agonizando.
E tudo será esquecido, ficará restando apenas o cheiro, aquele fedor horrível...

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Essa menina que menciono tem nome, mas eu não vou revelar, eu a conheço, a encontro seguidamente, seja pelas ruas da cidade, seja nos projetos que montamos. É real, nua, crua. É mãe. Várias vezes. Ela fala, tem opinião e é forte, muito mais do que podemos sequer imaginar.

*Texto de Gustavo Türck, do blog Alma da Geral

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