terça-feira, 22 de maio de 2007

ASSISTENTE SOCIAL “PÉ NO CHÃO”!

O acolhimento é um palavrão para os “intelectuais do Serviço Social”. Eles gostam do discurso inflamado, que informa o ponto de chegada, mas não sabe por onde caminhar. Como garantir direitos, sem falar em acolhida, em escuta sensível, em empatia, em vínculo... impossível, o papo fica em um plano ideal, desvinculado da realidade concreta onde ocorre o processo de trabalho do assistente social” (postado por anônimo em 09.05.2007 em resposta ao artigo Acolhimento...).

Ao me defrontar com este comentário, embora anônimo, não pude deixar de trazê-lo para uma reflexão. Este é o grande “nó” do Serviço Social. Ainda não construímos um caminho para articular a teoria com a prática. E, ao assumirmos um paradigma teórico que dá conta de nosso Projeto Ético-Político, ainda não conseguimos concretizá-lo na prática, não indo além do discurso sobre o resultado.
A assistente social Maria Lúcia Martinelli, em suas falas, sempre pontua: “nós somos profissionais que trabalhamos na conjuntura, não com a conjuntura”. Ela é extremamente lúcida ao afirmar permanentemente esta máxima. Ela está dizendo que nós trabalhamos com sujeitos concretos. Que trazem em suas vidas todas as expressões da Questão Social resultado da relação capital e trabalho. Que também se expressa pela conjuntura. Logo, quem traz para nós o objeto a ser desvendado carregado da trama das relações sociais, postas pela sociedade capitalista de cunho periférico, é este sujeito, único em sua concretude, com sua história de vida, com seu sofrimento cotidiano resultado da negação de direitos. E nós, assistentes sociais, ao tê-lo em nossa frente, temos que primeiramente vê-lo como alguém que tem que ser acolhido, não como alguém que tem que ser recepcionado educadamente e ser encaminhado através de uma entrevista informativa.
A acolhida implica em escuta sensível, ao confirmar este sujeito como único, embora seja hospedeiro de sua própria opressão. Esta se consolida por ele por não se constituir como um sujeito de direitos pela própria alienação, que permeia as relações sociais que, para manter a exclusão, se retroalimenta na própria alienação.
Como podemos acolher, como podemos escutar, sem que este sujeito adquira um significado para nós assistentes sociais e sem que tenhamos um significado para eles?
Na essência do acolhimento está a empatia e a capacidade do vínculo como uma estratégia de enfrentamento ao objeto desvendado e de sua superação. Sem este caminhar, este sujeito concreto que chega a nós, continuará a ser tratado como “coisa” e nós continuaremos a ser hospedeiros da opressão, porque continuaremos a reproduzir as relações de opressão.
Assistente Social “pé no chão” é aquele que produz na prática a articulação desta com a teoria. Que se orienta pelo Projeto Ético-Político, ocupando os espaços de resistência na garantia de direitos.
Assistente Social “pé no chão” é aquele que sabe que, para garantir direitos, necessitará aprofundar o conhecimento e permanentemente superá-lo pela realidade concreta que nos confronta, sem que tenhamos que abandonar os fundamentos que dão sustentação a nossa profissão.
Assistente Social “pé no chão” sabe que o caminho é árduo e que só a realidade concreta desafia o conhecimento do Serviço Social, porque é desta realidade concreta que consolidamos o conhecimento e construímos caminhos.
No entanto, os “intelectuais do Serviço Social” estão devendo aos assistentes sociais “pés no chão” a metodologia de aplicação do Método Dialético Materialista para consolidar o nosso processo de trabalho no cotidiano, na garantia de direitos.
Maria da Graça Türck

Um comentário:

Anônimo disse...

Depois deste artigo que acabo de ler só me resta dizer que eu sou um Assistente Social "pé no chão" e que cada dia que passa estou mais e mais apaixonada pela profissão. Obrigada Graça por fazer parte desta paixão.