segunda-feira, 16 de abril de 2007

COLABORADORES VERSUS TRABALHADORES: O QUE ESTÁ EM JOGO?

Quem circula no âmbito das empresas está se confrontando com uma figura de linguagem que está dominando o cenário do trabalho:
“Colaboradores”.
Na linguagem cotidiana empresarial existe um esforço em substituir o trabalhador por colaborador.
O que está em jogo neste cenário que vai se explicitando, primeiro, pela linguagem?
A negação da luta de classes.
Ao transformar o trabalhador em “colaborador” está se inaugurando uma nova artimanha na exploração do trabalho. Isto é, esta denominação vai atingir diretamente a subjetividade do trabalhador “vendendo” a ilusão de que ele, trabalhador, passa a fazer parte da empresa ao ascender socialmente pelo auxílio que presta ao colaborar.
Logo, não fica explicitado para ele que, ao colaborar, ele transforma a relação de trabalho em ajuda, em auxílio, isto é, ele, “colaborador”, participa sem pertencer.
Portanto, não reivindica, simplesmente aceita pela doce ilusão de que está se inserindo no clube fechado dos patrões, se enredando na armadilha posta para transformá-lo cada vez mais em coisa. E, ao ir perdendo o seu vínculo de classe, ao negar sua identidade, vai enfraquecendo seu coletivo e, conseqüentemente, vai deixando de assumir o seu papel na história, renunciando a garantia de seus direitos.
E o assistente social? Como se posiciona nestes espaços sócio-ocupacionais?
Assume o “colaborador” negando o trabalhador?
Implementa seu processo de trabalho na manutenção da exploração?
Nega também ao trabalhador o direito de sua identidade de classe?

(...) Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
-Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher. Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

-Loucura!- gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído.

(Vinícius de Moraes)

Quem nasceu da relação capital e trabalho nunca poderá ser transformado em “colaborador”, porque através da história foi forjado pela resistência no enfrentamento da exploração do trabalho.

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