segunda-feira, 11 de setembro de 2006

REFLEXÕES COTIDIANAS: SERVIÇO SOCIAL E A BUROCRATIZAÇÃO DA PRÁTICA

“Quem sou eu neste espaço profissional? Se eu perder este emprego, como vou me inserir em outro espaço, se eu só sei fazer isto?”.

Estas falas que ecoam no cotidiano de muitos assistentes sociais contextualizam o grande “nó górdio” que vem se instituindo entre nós, assistentes sociais.

Muitas vezes nos “agarramos” nos empregos e perdemos o nosso prumo como profissionais, porque, quando perdemos nosso emprego, perdemos a nossa identidade.

Esta insegurança que nos persegue como profissionais está diretamente relacionada a um fazer burocrático, que constantemente nos leva a questionar esta prática.

Logo, a burocratização da prática do assistente social tem sua origem na questão da identidade da profissão, visceralmente ligada ao seu objeto. Esta realidade se concretiza quando encontramos alguns assistentes sociais que se apropriam das demandas institucionais como uma especificidade que lhes garante uma identidade. É, portanto, através de um fazer permanente, em relação a uma demanda, que vamos nos “especializando” nas demandas e vamos desenvolvendo uma prática burocrática, resolvendo os problemas institucionais e dos usuários, nos tornando “imprescindíveis” nos espaços institucionais.

“Aqui, tudo tem que passar pelo Serviço Social!".

E isto é visto como um elogio, como um “certificado” de importância no espaço institucional.

E nestes espaços, os assistentes sociais se tornam profissionais que abarcam todas as demandas institucionais, “ouvindo”, encaminhando, desatando todos os “qui-pro-cós” institucionais. E, mais ainda, quando nos municípios vamos trabalhar na Assistência Social e somos “brindadas” com a exigência do Judiciário de exercer a Perícia Social, como um “plus” a mais, e, inconformadas, temos que ouvir: “o Serviço Social está sendo prestigiado!”.

Será?!

Prestigiado pela exploração do trabalho dos assistentes sociais? Prestigiado pela precarização do trabalho? Prestigiado pelo excesso de tarefas, que agrava a burocratização da prática?

E, assim, vamos indo...

Cheias de tarefas sem sentido profissional nenhum. Temos que dar conta de tudo e, ao fim do dia, aquele sentimento de desvalia, aquele cansaço que vem do trabalho braçal. Aquele sentimento de desesperança.

E, aos poucos, uma pequena incomodação começa a se fazer presente em forma de pergunta silenciosa – “por que escolhi esta profissão?”. E, junto a ela, outras indagações passam a fazer parte deste contexto. Mas todas trazem na sua essência a mesma questão:

“Que profissão é esta? Que fazer é este que está me tornando uma profissional burocrata?”.

- “Tu sabes que eu sozinha tenho que dar conta deste programa e tenho que atender uns 40 usuários em um dia? Como pensar em qualidade? Como pensar em articulação teórico-prática? Vou me manter até achar 'coisa' melhor! Quem sabe vou fazer aquele curso de Terapia Familiar, este, sim, vai me ensinar a trabalhar” (Fragmentos de Falas de Assistentes Sociais, 2006).

E vamos construindo saídas que podem nos levar ao conformismo, como de ficarmos na resolução de tarefas. Ou, então, buscarmos especializações, como Terapia Familiar para a mudança de profissão. Se esta for a opção, deixamos de ser assistentes sociais para nos tornarmos terapeutas familiares. Ou, então, optamos em continuarmos inconformadas, buscando um caminho que consolidará nossa identidade, deixando de lado a prática burocrática, para que o nosso processo de trabalho possa realmente garantir o Projeto Ético-Político desta profissão. E, se esta é a decisão, retomamos a pergunta inicial com outro direcionamento.

Onde está a fragilidade que permeia o processo de trabalho dos assistentes sociais da “ponta”, das “franjas”?

Retorna-se, então, para o eixo principal: a questão do objeto – a Questão Social – e, naturalmente, para os Fundamentos Teórico-Metodológicos, Éticos-Políticos e Técnico-Operativos.

Esta é a diferença entre uma prática burocrática e o processo de trabalho dos assistentes sociais nos espaços institucionais. No entanto, não é só uma apropriação teórica, esta nós temos. O que está no cerne da questão é sua aplicabilidade nos contextos de prática para que o processo de trabalho se faça presente na garantia de direitos.

Maria da Graça Maurer Gomes Türck

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