Garantir direitos para os outros implica, primeiramente, garantir os direitos para os assistentes sociais em seus espaços de trabalho.
Quem os garante?
Como podemos em um coletivo organizado enfrentar os desmandos, a falta de respeito e a prepotência que alguns profissionais de outras categorias profissionais nos confrontam no nosso dia-a-dia profissional?
Por que sempre tem um “doutor” dizendo o que devemos fazer?
Sim, sei que temos nossas fragilidades profissionais, nossas dificuldades em articular os fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos.
Que categoria profissional não os têm?
Por que, então, em nossos espaços de trabalho, alguns profissionais de outras categorias nos dizem como devemos realizar o nosso processo de trabalho?
Em nossa compreensão, a resposta emerge de alguns lugares:
Em primeiro lugar, de nossa própria origem. Em uma sociedade dividida em classes sociais, em que se privilegia o lucro em detrimento dos sujeitos/trabalhadores, uma profissão que traz em sua origem trabalhar com os sujeitos que estão à margem da sociedade, naturalmente, vai carregar a discriminação que seus próprios usuários estão sujeitos.
Logo, nossa identidade tem que ser assumida, mas assumida pela vertente da garantia de direitos. Nos apropriarmos do espaço de resistência para o confronto permanente com a opressão da classe dominante. Quebrar as amarras da alienação, ao assumirmos o nosso lugar profissional. O lugar da interlocução de direitos.
Mas, antes, é preciso nos darmos conta de que, se esta profissão é contumazmente desvalorizada, é porque carregamos a mesma discriminação que os nossos usuários. E que, nos espaços profissionais, também, divididos em “classes”, pertencemos à classe trabalhadora, logo, segundo a dita “classe intelectual pensante que produz o conhecimento”, os assistentes sociais têm que executar, obedecer, não pensar, não questionar, não construir.
E, o pior, é que obedecemos aos “desmandos” nos espaços institucionais, pela nossa fragilidade de apropriação teórica, pelo nosso sentimento de desvalia, pela nossa auto-estima baixa. Vamos, então, nos tornando hospedeiros da opressão, permitindo a nossa própria opressão e a reproduzindo nas relações com os usuários quando trabalhamos na lógica dominante. Quando não assumimos com orgulho a nossa identidade profissional articulada com o nosso Projeto Ético-Político.
Contra a violação de direitos, é necessário que nós, assistentes sociais, coletivamente vamos ocupando o espaço de resistência para o enfrentamento a situações de trabalho que precarizam nossos espaços e que proporcionam o assédio moral.
(...)Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz.
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído.
(Vínicius de Moraes – Operário em Construção)
E nós, assistentes sociais, estamos em construção, lutando para romper a alienação, para dizer não à opressão para garantirmos os nossos direitos e conseqüentemente os direitos de nossos usuários.
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