Um caso não tanto intrigante em si mesmo, mas, sim, na maneira que o tema vem sendo tratado pelo exército brasileiro. Segue parte de matéria do Terra Magazine:
RS: Deputado aponta falhas na apuração de estupro em quartel
A denúncia de um caso de violência sexual, ocorrido em maio passado, dentro de um quartel do Exército Brasileiro no Rio Grande do Sul, permanece sem desfecho. Um recruta de 18 anos alega ter sido estuprado por quatro colegas, enquanto cumpria pena disciplinar em um alojamento do Parque Regional de Manutenção, na cidade de Santa Maria, a 290 quilômetros de Porto Alegre.
Nesta sexta-feira (26), o deputado estadual Jeferson Fernandes (PT), membro da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, acrescentou que o Inquérito Policial Militar (IPM), instaurado pelo Exército, foi encaminhado ao Ministério Público Militar, que devolveu a peça porque ela não apresentava o exame de corpo de delito feito pelo Instituto Médico Legal, exame realizado apenas após a solicitação da família do recruta.
- Um dos advogados do jovem leu a conclusão (do IPM) e me disse que nela constava que houve efetivamente a relação sexual, contudo, na interpretação do Exército, ela teria sido consentida. É um absurdo, estou estarrecido. Até porque isso vem somente agora. Antes, eles (o Exército) estavam negando que havia ocorrido a relação sexual. Eles deveriam ter alegado, então, que as evidências apontavam para uma relação sexual. Não era isso que estavam dizendo, mas diante das provas materiais, mudaram. O advogado me informou que o exame do IML aponta que o DNA localizado no lençol da vítima é o mesmo de um dos acusados e há outros resquícios de esperma, mas, como estavam muito misturados, não deu para diagnosticar de quem seriam - enfatiza o deputado, designado para acompanhar de perto a apuração.(...)
Terra Magazine - Qual é a sua percepção em relação ao desenrolar do caso? Para o senhor, há um movimento do Exército no sentido de abafá-lo?
Jeferson Fernandes - Isso está muito evidenciado. Até porque, eu tive uma conversa com o general que comanda o Exército na Região Sul do País e ele me falou várias coisas. Até penso que ele imaginou que eu não daria divulgação para o conteúdo da nossa conversa. Tão logo eu fiz isso, ele se mostrou muito revoltado. Nós quisemos aprovar um relatório na Comissão de Direitos humanos, a partir das oitivas que eu fiz e o que nos faz agora aguardar mais um tempo é um exame do Instituto Médico Legal.
Para você entender: Na ocasião da denúncia do rapaz, o exame no corpo dele foi muito mal feito. Além disso, não averiguaram nada no local do ocorrido. Não averiguaram os lençóis da cama do rapaz, a roupa íntima dele, as roupas dos envolvidos. Não precisa ser profissional da área do Exército ou da área da segurança para saber que, quando se faz uma perícia, é nos mínimos detalhes. Oito dias após o ocorrido, é que, por conta de uma denúncia que a mãe, o pai, mais o advogado fizeram, que eles recolheram essas roupas e levaram até o Instituto Médico Legal (IML).
Soubemos que chegou a ser feita uma ilação sobre a sexualidade da vítima. Disseram que ele era homossexual.
Esta é uma afirmação que a mãe do menino faz. Tão logo que os pais souberam, eles foram até o hospital militar, primeiro, naquela dúvida do que realmente tinha acontecido. Quando souberam da história por inteiro, eles foram conversar com um sargento, um sub-tenente que comandava a unidade onde ele (o menino) trabalhava. Esse cidadão teria dito: "Não, vocês estão cegos, não estão percebendo que o filho de vocês é homossexual. O que ele fez foi concedido. Nós, como Exército, não podemos responder por isso".
O inquérito que eles estão fazendo (IPM) já devia ter sido concluído há bastante tempo. Eu tive essa conversa com eles há dois meses. Foi no final do mês de junho. Na ocasião, eles me disseram que estavam aguardando esse segundo exame, que é do IML, portanto é um exame civil, não mais sob a tutela do Exército.
O Exército falou isso para o senhor?
Isso, o Exército.(...)
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