quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A IMPORTÂNCIA DO MÉTODO DIALÉTICO MATERIALISTA NA APROPRIAÇÃO DO COTIDIANO PROFISSIONAL

Quando os assistentes sociais se apropriam dos fundamentos do Serviço Social, consequentemente do Método, sua argumentação frente a qualquer refração da Questão Social se torna diferente, cria nos espaços de debates e embates profissionais uma qualificação não encontrada em qualquer outra profissão.

Mas por que diferente? O Método não está disponível para qualquer categoria profissional?

Com certeza. Mas a diferença se encontra exatamente no cotidiano miúdo, espaço da intervenção profissional e do objeto profissional que nos aponta que a Questão Social é o nosso objeto, que chega para cada profissional através de suas expressões, mas que o objeto vai se constituir pela apropriação da resistência, ou seja, da contradição. Logo, a desigualdade social indica a violação de direitos que está por toda parte numa sociedade capitalista de cunho periférico. E trabalhar na ótica dos direitos é levantar o véu da alienação que vende a culpabilização dos sujeitos e de suas famílias no encobrimento das tramas de uma classe dominante que, ao sustentar a estrutura de um estado que se funda na exploração, dá guarida à violação de direitos.

Olhar para a situação de uma mulher que chega pela dor, por ver um filho usuário de crack imobilizado pela dependência, com sua vida ameaçada, sua adolescência jogada na lata do lixo social e trabalhar só na perspectiva deste pequeno mundo é dar guarida e sustentação ao terceiro poder que já se instituiu no Estado brasileiro. Este terceiro poder vem se constituindo pelo narcotráfico, que usa os sujeitos como mercadoria ao tirar deles, pela dependência química, a autonomia, pela própria impossibilidade de exercerem o poder decisório sobre suas próprias vidas. Essa terceira via tem poder de negociação e de corrupção, porque centraliza em sua mão a mola mestra da sociedade capitalista - o lucro - e dá sustentação ao sistema financeiro nacional e internacional.

O narcotráfico tem aliados importantes e poderosos através de uma cultura predatória que todos os dias os meios de comunicação nos esfregam na cara: consumir é o melhor. Só posso ser feliz se puder ter o carro do ano. Só compro tênis de marca. Só quero comer Mac Donald's, mesmo que não tenha sabor. Cerveja e cigarro são sinônimos de felicidade, de alívio e de bem viver. Conseguem vender que esporte combina com bebida alcoólica, que mesmo um ex-craque de futebol, Ronaldo, ex-Fenômeno, a triste figura, é um exemplo de esportista. Como lutar contra o crack ou outras drogas, lícitas ou ilícitas, numa sociedade hedonista onde só se é feliz ao se consumir?

Logo, trabalhar sobre a ótica dos direitos é trazer para o cotidiano a compreensão de que este sujeito materializa estas relações em seu contexto afetivo e que cada sujeito se constitui como unidade dialética. E é nessa unidade que as relações sociais materializadas pela sociabilidade reificada moldam e transformam a identidade social de cada um de nós.

Esta é a perspectiva que nós, assistentes sociais, trazemos para o cotidiano profissional para trabalharmos na ótica dos direitos. Não perdemos de vista o sujeito, mas não deixamos de vê-lo através da historicidade e da totalidade e na apropriação da contradição, planejamos intervenções que darão visibilidade ao invisível!

Assistente Social Maria da Graça Maurer Gomes Türck

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